"Para termos a segurança desejada no combate a este crime precisamos de uma força organizada. A nossa polícia hoje não está preparada para garantir a ordem e segurança públicas. Isso não quer dizer que nós não temos polícias, temos sim muitos e bons, mas falta vontade política", diz Nazário Muanambane, em entrevista à Lusa, em Maputo.
Em causa está a onda de raptos em Moçambique, que começou em 2011, afetando, sobretudo, empresários e seus familiares. Após um período de relativa estabilidade, os casos voltaram a ser registados nos últimos anos, principalmente nas capitais provinciais, com destaque para Maputo.
As autoridades moçambicanas, entre as quais a Procuradoria-Geral e o Comando-Geral da polícia, admitiram, por várias vezes, o envolvimento de membros da polícia e de magistrados nestes crimes, cujas ramificações se estendem até à vizinha África Sul, país com o qual Moçambique tem fortes relações.
O presidente da Associação Moçambicana de Polícias, com registo de 14 mil membros, critica este posicionamento dos dirigentes, considerando que este argumento esconde "a incapacidade de gestão do Estado" por parte das próprias lideranças.
"Se eles são os dirigentes e dizem que a nossa política é frágil porque está envolvida no mundo do crime, isto significa que eles é que estão a admitir a sua incapacidade de gestão e de controlo do Estado", diz.
Nazário Muanambane defende maior investimento na polícia para evitar que os membros da corporação sejam empurrados para o mundo do crime, bem como a aposta na tecnologia para fazer face à dinâmica do crime.
"Não tomem só o facto de que o polícia fez um juramento à bandeira, ele também é humano, tem família e necessidades como todos têm (...) Mas quando estas condições não são encontradas, sendo alguém com capacidade, acaba se deixando aliciar", explica o presidente da Associação Moçambicana de Polícias, lembrando que os raptos são registados, em muitos casos, em locais com câmaras de vigilância.
Enquanto se debatem eventuais soluções para o problema, nas ruas de Maputo o receio de um novo caso de rapto à luz do dia prevalece, sobretudo para aqueles cujo trabalho é proteger os outros.
"Temos receio", admite à Lusa Manuel Gamito, um segurança de um supermercado em Maputo que presenciou o último rapto na capital moçambicana, ocorrido na manhã de 11 de fevereiro, a poucos metros da Casa Militar, quartel responsável pela guarda do Presidente da República, Filipe Nyusi.
"A ação deles não levou nem dois minutos. Eles estavam armados, apontaram-lhe uma arma e levaram-no para o carro e depois saíram", lembra Manuel Gamito.
Este é o segundo rapto registado este ano na cidade de Maputo.
Em 20 de janeiro, um empresário foi raptado na capital moçambicana por um grupo de homens armados, dois dos quais já detidos, mas a vítima "continua em cativeiro", segundo os últimos dados avançados pela polícia.
No dia 16 de janeiro, um gestor de uma loja de venda de mobília foi ferido no abdómen durante uma tentativa de rapto frustrada por populares que atiraram pedras contra os autores do crime, disse então à Lusa o porta-voz da polícia em Maputo, Leonel Muchina.
Desde janeiro de 2023, as autoridades moçambicanas detiveram 38 pessoas envolvidas na onda de raptos no país, que registou um total 13 casos no mesmo período, segundo dados oficiais.
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