O ex-presidente Jair Bolsonaro ficou na embaixada da Hungria no Brasil durante duas noites, logo após a sua casa ter sido alvo de buscas, em fevereiro, numa operação que investigava a organização responsável por uma tentativa de golpe de Estado para mantê-lo na Presidência após a derrota nas eleições de 2022.
A informação foi avançada pelo jornal The New York Times, que conseguiu obter imagens que mostram o antigo presidente, numa altura que já tinha entregado o seu passaporte à Polícia Federal, a entrar no local, localizado em Brasília.
De acordo com a publicação, Bolsonaro ficou na embaixada de 12 a 14 de fevereiro, quatro dias depois de ter sido alvo da operação em questão. Na mesma ação, foram detidos dois ex-assessores do antigo presidente.
Nas imagens obtidas pelo New York Times, Bolsonaro estava acompanhado por dois seguranças, pelo embaixador da Hungria no Brasil e outros membros da equipa diplomática.
Deu no New York Times: depois de ter passaporte confiscado, Jair Bolsonaro passou duas noites na Embaixada da Hungria no Brasil, país que tem como primeiro-ministro Viktor Orban, um extremista aliado do Bolsonaro. Pq será que Bolsonaro correu para lá? 🤡
— GugaNoblat (@GugaNoblat) March 25, 2024
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E o que diz Bolsonaro?
Depois de a estadia ser conhecida, esta segunda-feira, o antigo presidente confirmou a sua presença na embaixada, referindo que lá ficou hospedado "a convite". Segundo os seus advogados de defesa, o antigo chefe de Estado do Brasil esteve na embaixada para "manter contacto com as autoridades do país amigo", assim como durante o período da estadia conversou com as autoridades húngaras para "atualizar os cenários políticos das duas Nações".
A publicação sublinha ainda que Bolsonaro não poderia ser detido numa embaixada estrangeira que o recebesse, dado que os locais estão fora da área de atuação das autoridades locais.
No artigo publicado hoje, é ainda sugerido que Bolsonaro se pode ter refugiado no local por forma a evitar ‘responder’ à justiça, em eventuais consequências que pudessem surgir da investigação.
O "irmão" Orbán
A publicação destaca ainda a amizade entre os Bolsonaro e Viktor Orbán, o primeiro-ministro da Hungria, recordando uma visita feita por Jair ao país, em 2022, quando ainda era presidente. Na altura, Bolsonaro chamou Orbán de “irmão”.
O húngaro não demorou a demonstrar que esta ‘irmandade’ resistia aos tempos, já que no dia da operação levada a cabo pelas autoridades brasileiras já este ano, recorreu ao X (antigo Twitter), para demonstrar o seu apoio. "Um patriota honesto. Continue a lutar, Bolsonaro", escreveu Orbán, partilhando uma fotografia dos dois.
An honest patriot. Keep on fighting, Mr. President! @jairbolsonaro pic.twitter.com/5mmmIAGGC3
— Orbán Viktor (@PM_ViktorOrban) February 8, 2024
Já depois da visita de Bolsonaro à embaixada, o ex-presidente esteve presente num evento no Rio de Janeiro, onde discursou e disse que "poderia estar muito bem noutro país", mas que preferiu ficar no Brasil.
MNE chama embaixador húngaro
O ministério dos Negócios Estrangeiros também já 'reagiu', chamando, esta segunda-feira, o embaixador da Hungria no Brasil.
Segundo a CNN Brasil, Miklós Halmai foi chamado pela Secretária de Europa e América do Norte, a embaixadora Maria Luísa Escorel. De acordo com a publicação brasileira, Halmai esteve no ministério durante cerca de 20 minutos.
[Notícia atualizada às 22h34]
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