O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse, esta quarta-feira, que o país está a ponderar a possibilidade de 'deixar cair' as acusações contra o fundador do WikiLeaks, Julian Assange.
As declarações, citadas pelas publicações internacionais, surgem depois de Washington ter recebido um apelo do governo australiano. Questionado sobre esse pedido, Biden respondeu: "Estamos a considerar".
O australiano, de 52 anos, está detido há cinco anos na prisão de segurança máxima de Belmarsh, em Londres. Pessoas próximas de Assange alertaram nas últimas semanas para a deterioração do seu estado de saúde física e mental.
Já no mês passado, um tribunal no Reino Unido adiou a extradição de Assange para os Estados Unidos, referindo que eram precisas "garantias satisfatórias" de que este estaria autorizado a invocar a Primeira Emenda da Constituição, que protege a liberdade de expressão, e que não seria prejudicado no julgamento e sentença devido à sua nacionalidade, sendo-lhe concedidas as mesmas proteções que um cidadão norte-americano teria. O tribunal também queria garantias de que não será aplicada a pena de morte.
Já a mulher do fundador da Wikileaks apontou que Washington não deveria dar nenhumas garantias, mas sim "desistir do caso vergonhoso". "Julian nunca deveria ter sido preso por um único dia. Isto é uma vergonha para qualquer democracia", apontou Stella Assange.
A justiça americana quer julgar Julian Assange por ter publicado desde 2010 mais de 700 mil documentos confidenciais sobre atividades militares e diplomáticas dos EUA, particularmente no Iraque e no Afeganistão.
Entre os documentos está um vídeo que mostra um helicóptero de combate norte-americano a disparar sobre civis em julho de 2007, resultando em mais de uma dezena de mortos, incluindo dois jornalistas da agência de notícias Reuters.
De acordo com a Lei de Espionagem dos EUA de 1917 invocada pelas autoridades norte-americanas, o australiano de 52 anos pode ser condenado a até 175 anos de prisão.
Julian Assange foi preso pela polícia britânica em 2019, depois de sete anos em exílio voluntário na embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia numa investigação de violação, arquivada no mesmo ano.
Em janeiro de 2021, a justiça britânica decidiu inicialmente a favor do fundador do portal WikiLeaks. Citando risco de suicídio, a juíza Vanessa Baraitser recusou-se a dar luz verde à extradição, mas a decisão foi revertida posteriormente e aprovada pelo Governo britânico em junho de 2022.
O que mudou nos últimos anos?
Em meados de fevereiro, o parlamento australiano votou a favor de solicitar aos Estados Unidos e ao Reino Unido a libertação de Assange, detido em Londres desde abril de 2019, depois de quase sete anos refugiado na embaixada do Equador na capital britânica.
Com a mudança de Governo no Equador, as novas autoridades do país sul-americano permitiram a entrada da polícia britânica na sua representação diplomática para deter o ativista, programador de computador e jornalista australiano de 52 anos.
Desde então, este encontra-se à espera de uma possível extradição para os Estados Unidos, onde é acusado de espionagem.
Em Londres, o editor do Wikileaks, Kristinn Hrafnsson, apelou hoje para "uma solução política" para a libertação de Julian Assange, à margem de uma manifestação na cidade para assinalar o quinto aniversário da sua detenção.
"Cinco anos, é excessivo e brutal", defendeu Hrafnsson, em declarações à agência noticiosa francesa AFP, numa altura em que parece aproximar-se do fim a longa batalha judicial que Assange trava contra a sua extradição para os Estados Unidos.
"Este é um caso que nunca deveria ter começado. A solução para este caso, em que estamos perante uma perseguição política, é uma solução política", sustentou, acrescentando: "A cada dia que passa, corremos o risco de Julian morrer na prisão".
Para o editor do Wikileaks, nada deve ser excluído pelas autoridades australianas, que "deviam associar isto a acordos comerciais e à futura cooperação" entre Camberra e Washington, apontando como exemplo a aliança de defesa Aukus.
"Eles deviam dar provas de coragem e dizer 'não temos nada para discutir, a menos que abandonem as acusações contra Julian Assange, para que ele possa ser libertado e regressar à Austrália", insistiu o jornalista de investigação islandês.
[Notícia atualizada às 20 horas]
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