Em entrevista à agência Lusa em Lisboa, onde se encontra para participar nas cerimónias dos 50 anos do 25 de Abril, José Maria Neves disse que "não têm havido soluções eficazes para a resolução" da questão dos transportes aéreos e marítimos.
"Há uma grande ineficácia que tem posto em causa a coesão territorial, a competitividade das empresas e trazido enormes prejuízos às pessoas", apontou.
A companhia aérea angolana BestFly World Wide, acionista maioritária da Transportes Interilhas de Cabo Verde (TICV), anunciou na terça-feira que vai deixar Cabo Verde e culpou o "ambiente de negócios tóxico e punitivo", criticando a forma como foi tratada pelas autoridades.
A marca detinha a concessão atribuída pelo Governo dos voos interilhas, cujo serviço se deteriorou por falta de aviões, ao ponto de os voos terem sido suspensos no início do mês.
"Penso que, neste domínio, as parcerias não têm funcionado. Já estamos na terceira parceria, primeiro com a Binter, depois a Icelandair e a BestFly. Neste momento, as negociações para novas parcerias têm que ser feitas em bases mais sustentáveis", defendeu.
E acrescentou: "É preciso que as decisões tenham em conta a complexidade da situação dos transportes aéreos e marítimos interilhas. O Governo tem de preparar decisões muito mais abrangentes e muito mais eficazes para se resolver definitivamente esta situação".
Sobre os prejuízos que as sucessivas crises nos transportes interilhas têm causado, José Maria Neves disse que são "enormes" para "as empresas que têm os seus negócios fortemente prejudicados e há também prejuízos para as famílias. Muitas pessoas que querem deslocar-se entre as ilhas e têm dificuldades em fazê-lo, precisamente por causa dos constrangimentos existentes".
Os prejuízos estendem-se às diferentes ilhas e municípios do país: "Há um conjunto de realizações que não têm sido possíveis ou não têm tido o impacto necessário porque não há transportes".
E exemplificou com o adiamento da Taça de Futebol de Cabo Verde, cujos jogos foram adiados 'sine die' porque as equipas campeãs não podem deslocar-se pelas diferentes ilhas e "a grande festa da ilha do Fogo", em 01 de maio.
"É uma das grandes festas nacionais e com uma presença muito forte da emigração, particularmente dos Estados Unidos, de onde chegam centenas de cabo-verdianos, e chegam também à ilha centenas de cabo-verdianos de outras ilhas", observou.
Há ainda "empresas que estão a queixar-se da escassez de produtos e os hotéis".
"O impacto socioeconómico é muito forte", disse, acrescentando que os problemas atingem até a segurança nacional, além de por em causa o transporte de doentes para ilhas onde existem serviços de saúde mais diferenciados.
"Temos de garantir a mobilidade de pessoas, mobilidade dos órgãos de soberania, entre as diferentes ilhas, não pode haver constrangimentos desta natureza", indicou.
E defendeu a adoção de "medidas emergenciais" da parte do Governo para, mais tarde, se encontrarem "outras soluções mais duráveis".
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