Exército do Burkina Faso massacrou mais de 200 civis em ataque a aldeias

As forças militares do Burkina Faso mataram 223 civis, incluindo bebés e crianças, em ataques a duas aldeias acusadas de cooperar com terroristas, denunciou a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) num relatório divulgado na quinta-feira.

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©  Lassana Bary/Twitter

Lusa
26/04/2024 06:34 ‧ 26/04/2024 por Lusa

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Os assassínios em massa ocorreram a 25 de fevereiro nas aldeias de Nondin e Soro, no norte do país, e cerca de 56 crianças estavam entre os mortos, segundo o relatório.

A organização de defesa dos direitos humanos apelou às Nações Unidas e à União Africana para que disponibilizem investigadores para apoiarem os esforços locais para levar os responsáveis à Justiça.

O porta-voz da ONU Stéphane Dujarric declarou que as Nações Unidas não têm qualquer confirmação do ataque, mas acrescentou: "Posso dizer-vos que estes relatos são extremamente, extremamente perturbadores e que iremos analisá-los".

"Os massacres das aldeias de Nondin e Soro são apenas os mais recentes massacres de civis pelos militares do Burkina Faso nas suas operações de combate à insurreição", afirmou a diretora executiva da HRW, Tirana Hassan, num comunicado.

"A assistência internacional é fundamental para apoiar uma investigação credível sobre possíveis crimes contra a humanidade", sublinhou.

O outrora pacífico Burkina Faso tem sido devastado pela violência que opõe extremistas islâmicos ligados à Al-Qaida e ao grupo Estado Islâmico (EI) às forças apoiadas pelo Estado.

Ambas as partes têm atacado civis, obrigando à deslocação de mais de dois milhões de pessoas, mais de metade das quais são crianças.

A maioria dos ataques não é denunciada nem punida, num país governado por uma liderança repressiva que silencia os dissidentes.

O relatório da HRW forneceu um raro relato em primeira mão dos assassínios cometidos, feito por sobreviventes, num contexto de acentuado aumento do número de vítimas civis às mãos das forças de segurança do Burkina Faso, numa altura em que a junta militar enfrenta dificuldades para vencer uma crescente rebelião 'jihadista' e ataca os habitantes sob o pretexto do combate ao terrorismo.

Mais de 20.000 pessoas foram mortas no Burkina Faso desde que a violência ligada à Al-Qaida e ao EI pela primeira vez se abateu sobre o país da África Ocidental há nove anos, de acordo com o Projeto de Localização e Números de Conflitos Armados, uma organização sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos.

O Burkina Faso sofreu dois golpes de Estado em 2022. Desde que tomou o poder, em setembro desse ano, a junta liderada pelo capitão Ibrahim Traoré prometeu derrotar os rebeldes, mas a violência só piorou, segundo os analistas.

Cerca de metade do território do país continua atualmente fora do controlo do Governo.

Frustrada com a ausência de progressos ao longo de anos de ajuda militar ocidental, a junta cortou os laços militares com França, antiga potência colonial, e recorreu então à Rússia para obter apoio em matéria de segurança.

Leia Também: França. Decisão de Burkina Faso de expulsar diplomatas sem fundamento

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