Analistas ouvidos pela Lusa não duvidam dos méritos daquele que também é conhecido como o alargamento 'Big Bang' pela sua dimensão, dado em 2004 a UE ter passado de 15 a 25 Estados-membros, apontando que todos os países que aderiram há 20 anos -- Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia e República Checa -- estão hoje numa situação na qual certamente não estariam se não pertencessem ao bloco, embora admitam que há casos de sucesso maiores do que outros.
Entre os diversos exemplos de casos de sucesso conta-se a Estónia, um pequeno país com pouco mais de um milhão de habitantes que aderiu à UE apenas 13 anos após a sua independência da União Soviética (1991), e que hoje lidera a região dos Bálticos em muitos indicadores económicos e sociais -- surge em 19º no 'ranking' de qualidade de vida da OCDE, sendo o melhor dos 10 países que aderiram à União em 200. É apontada como um modelo de reformas económicas no pós-comunismo, tem uma reputação invejável de domínio do mundo digital, e instituições democráticas sólidas, após profundas reformas que tiveram o cuidado de prevenir a influência de oligarcas.
Já como exemplo inverso, a Hungria, governada ininterruptamente há 14 anos por Viktor Orbán, tem-se revelado uma constante e crescente 'dor de cabeça' para Bruxelas, face à deterioração da democracia e do Estado de direito no país, que, no mais recente índice mundial de perceção da corrupção divulgado pela Transparência Internacional, surge na 76ª posição, sendo o pior país da UE, e em igualdade na classificação com nações como Cuba e Trinidad e Tobago. Já a Estónia ocupa a melhor posição entre os 10 países que aderiram à UE há 20 anos, ao surgir no 12º lugar deste índice.
Para Engjellush Morina, especialista em política do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR, na sigla original), um 'think tank' (grupo de reflexão) pan-europeu, os países que aderiram em 2024, passando a integrar aquele que é atualmente o maior mercado único do mundo, têm hoje economias muito mais robustas do que teriam se estivessem fora do bloco, e aponta entre outros exemplos de sucesso os casos da Polónia e Eslovénia, um grande e um pequeno país.
"A Polónia, apesar de ter sido dirigida pelo PiS (Lei e Justiça, partido radical de direita) nos últimos oito anos, o que significou alguns retrocessos democráticos", que estão a ser agora corrigidos por um governo pró-europeu, liderado por Donald Tusk, "apresenta muito bons resultados em diversos indicadores económicos".
Já a Eslovénia, um pequeno país da antiga Jugoslávia, não só apresenta bons indicadores económicos -- é 15º entre os 27 Estados-membros no PIB per capita e 20º na classificação de qualidade de vida da OCDE -, como se tem revelado "um 'bom' Estado-membro de diversas formas, ao não obstruir, ao tentar ver onde pode ajudar e construir pontes, sendo hoje por exemplo um ator político em termos de estabilidade para os Balcãs Ocidentais", diz.
Por seu lado, Berta Lopez Domènech, analista política do centro de estudos European Policy Centre (EPC), considera que, entre os 10 Estados-membros que aderiram há 20 anos, "não há hoje nenhum país que esteja pior do que estava antes do alargamento".
"Se compararmos os países que aderiram desde 2004 com aqueles que não estão na UE", designadamente os dos Balcãs Ocidentais e da Parceria Oriental, em termos de democracia, segurança e desenvolvimento económico, o fosso é enorme", observa.
Admitindo que "é verdade que, no seio da UE, persistem fossos socioeconómicos ainda muito acentuados", a analista do EPC reforça, no entanto, que a comparação com os países dos Balcãs que ainda aguardam a entrada no bloco comunitário, "mostra claramente que a UE era a melhor alternativa".
Contudo, ambos os analistas políticos admitem que nem tudo é positivo e destacam, sem surpresa, o caso da Hungria, que tem assistido ao longo da última década a uma deriva autoritária e crescente deterioração do Estado de direito e das liberdades cívicas, o que tem levado a recorrentes 'braços de ferro' com Bruxelas e mesmo ao congelamento de fundos comunitários.
Para Engjellush Morina, este é "um exemplo inquietante" de como os países empreendem grandes reformas e esforços para o cumprimento de todos os critérios "durante o processo de adesão, pois há um grande escrutínio e monitorização", mas, uma vez que são membros de pleno direito da UE, podem registar retrocessos, incluindo a nível de deterioração da democracia e ataques à liberdade de imprensa, quando já não são "tão vigiados".
Também Berta Lopez Domènech, analista política do centro de estudos European Policy Centre (EPC), salienta, a propósito do "caso da Hungria, óbvio para todos", a questão do "poder transformativo do alargamento", questionando se a UE "ainda é capaz de provocar mudanças democráticas".
"O exemplo da Hungria mostrou que a UE não tem as ferramentas, ou aquelas de que dispõe não são eficientes, para lidar com estes casos", diz, notando que, durante todo o processo de adesão, os países do centro e leste da Europa "tinham incentivos" para levarem a cabo as indispensáveis reformas, que depois simplesmente "desaparecem".
A mesma opinião é partilhada por Engjellush Morina, segundo a qual a questão de lidar com violações do Estado de direito é uma matéria na qual "a UE está a ficar mesmo, mesmo para trás", já que efetivamente os países tendem a não ser tão vigiados uma vez que já fazem parte da União, e "ninguém foi capaz ou teve a coragem de seguir os procedimentos para obrigar os Estados-membros a respeitar o Estado de direito".
Morina nota também que a Hungria tem 'inspirado' outros, e aponta como dois casos a seguir atentamente os da Eslováquia, onde se regista ultimamente um "aumento do sentimento pró-russo", e da Bulgária, que ficou novamente sem governo, e que "pode assistir ao regresso de corruptos pró-Russia, para o dizer sem rodeios".
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