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Orangotango é o 1.º animal observado a curar ferida com planta medicinal

Rakus, um orangotango de Sumatra macho (Pongo abelii) que sofreu um ferimento debaixo de um olho, aplicou a si próprio uma planta com conhecidas propriedades medicinais, comportamento observado pela primeira vez num animal selvagem.

Notícias ao Minuto

06:27 - 03/05/24 por Lusa

Mundo orangotango

Este orangotango, que vive na área de investigação de Suaq Balimbing, no Parque Nacional Gunung Leuser (Indonésia), comeu e aplicou repetidamente seiva de uma planta trepadeira, Akar Kuning (Fibraurea tictoria), na ferida, que também cobriu com folhas mastigadas, segundo um estudo publicado esta quinta-feira na Scientific Reports.

Akar Kuning é uma espécie de liana conhecida pelos seus efeitos analgésicos e antipiréticos. Na medicina tradicional é utilizada no tratamento de feridas e doenças como disenteria, diabetes e malária.

O comportamento de Rakus foi observado e acompanhado, em junho de 2022, por investigadores do Instituto Max Planck de Comportamento Animal (Alemanha) e da Universitas Nasional (Indonésia).

"O comportamento de Rakus parecia ser intencional", já que tratou seletivamente apenas a ferida facial com a seiva da planta, e isso foi repetido várias vezes, frisou Isabelle Laumer, do Instituto Max Planck e uma das autoras do estudo.

O comportamento sugere que o tratamento médico de feridas pode ter surgido num ancestral comum partilhado por humanos e orangotangos, destacou, em comunicado, o Instituto Max Planck.

Antes deste estudo, espécies de primatas selvagens foram observadas a engolir, mastigar ou esfregar plantas com propriedades medicinais, mas não a aplicá-las em feridas recentes.

"Durante as observações diárias dos orangotangos, observamos que um macho chamado Rakus tinha sofrido um ferimento no rosto, provavelmente durante uma luta com um outro macho", explicou Isabelle Laumer.

Três dias após o ferimento, Rakus arrancou seletivamente as folhas de Akar Kuning, mastigou-as e aplicou a seiva resultante precisamente por sete minutos na ferida.

Depois, passou as folhas mastigadas na ferida até que esta ficasse completamente coberta e continuou a alimentar-se da planta durante mais de 30 minutos.

As folhas mastigadas podem ter ajudado a reduzir a dor e a inflamação causadas pela ferida e promovido a sua cicatrização, pois esta fechou em cinco dias e cicatrizou completamente num mês.

Como todo comportamento de automedicação em animais não humanos, o caso descrito levanta questões sobre a intencionalidade destes comportamentos e como estes surgem.

"É possível que o tratamento de feridas com Fibraurea tinctoria em orangotangos Suaq surja de inovação individual", sublinhou Caroline Schuppli, principal autora do estudo.

Os orangotangos locais raramente comem a planta. No entanto, podem tocar acidentalmente nas suas feridas durante a alimentação e, assim, aplicar acidentalmente a seiva nas feridas. Por terem efeitos analgésicos potentes, podem sentir uma liberação imediata da dor, levando-os a repetir o comportamento várias vezes, sugeriu Schuppli.

Como este comportamento não tinha sido observado anteriormente, pode ser que o tratamento de feridas com Fibraurea tinctoria tenha estado ausente até agora no repertório comportamental da população de orangotangos de Suaq, uma vez que, como todos os machos adultos da região, Rakus não nasceu lá e a sua origem é desconhecida.

"É possível que o comportamento seja demonstrado por mais indivíduos da sua população natal fora da área de investigação de Suaq", apontou.

Este comportamento possivelmente inovador apresenta o primeiro relato de tratamento ativo de feridas com uma substância biológica numa espécie de grande primata e fornece novas perspetivas sobre a existência de automedicação nos parentes mais próximos dos humanos e sobre as origens evolutivas da medicação para feridas de forma mais ampla.

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