HWR acusa grupo RSF e aliados de realizarem limpeza étnica no Sudão

A Human Rights Watch (HRW) acusou hoje as Forças de Apoio Rápido (RSF) e os seus aliados em El Geneina, Sudão, de cometerem crimes de guerra e contra a humanidade, num contexto de limpeza étnica.

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Lusa
09/05/2024 06:28 ‧ 09/05/2024 por Lusa

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Sudão

A Organização Não-Governamental (ONG) apontou estas forças como responsáveis pela morte de milhares de pessoas e de causarem centenas de milhares de refugiados.

"Os crimes contra a humanidade e os crimes de guerra generalizados foram cometidos no contexto de uma campanha de limpeza étnica contra a etnia Massalit e outras populações não árabes em El Geneina e arredores" entre abril e novembro de 2023, segundo um relatório da HRW.

"Os atacantes cometeram outros abusos graves, como tortura, violação e pilhagem. Mais de meio milhão de refugiados do Darfur Ocidental fugiram para o Chade desde abril de 2023. No final de outubro de 2023, 75% eram de El Geneina", indicou a ONG.

Os governos, a União Africana e as Nações Unidas precisam de agir agora para proteger os civis, defendeu a diretora executiva da HRW, Tirana Hassan, citada no comunicado.

"Visar o povo Masalit e outras comunidades não-árabes, cometendo graves violações (...) com o objetivo aparente de, pelo menos, os fazer abandonar permanentemente a região, constitui uma limpeza étnica", afirmou a HRW.

A ONG referiu ainda que existe a possibilidade de as RSF e os seus aliados terem, efetivamente, a "intenção de destruir total ou parcialmente os Massalit, pelo menos no Darfur Ocidental, o que indicaria que um genocídio foi e/ou está a ser cometido nessa região".

De acordo com a HRW, a violência em El Geneina começou nove dias após o início dos combates em Cartum, capital do Sudão, entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF), os militares do Sudão, e as RSF.

E, mesmo depois de os grupos armados MasSalit terem perdido o controlo das SUAS zonas, as RSF e as milícias aliadas atacaram sistematicamente civis desarmados, acrescentou.

A violência culminou num massacre em grande escala em 15 de junho, quando as RSF e os seus aliados abriram fogo contra civis que tentavam desesperadamente fugir, escoltados por combatentes Massalit, contextualizou.

Nesse dia e nos dias seguintes, os ataques continuaram contra dezenas de milhares de civis que tentavam atravessar para o Chade, deixando a zona rural repleta de cadáveres, declarou.

A HRW também documentou o assassínio de residentes árabes e a pilhagem de zonas árabes pelas forças Massalit, bem como o uso de armas explosivas pelas Forças Armadas Sudanesas em áreas povoadas, de forma a causar danos desnecessários a civis.

As RSF e as milícias aliadas intensificaram novamente os abusos em novembro, atacando a população Massalit que encontrara refúgio no subúrbio de El Geneina, em Ardamata, capturando homens e rapazes Massalit e, segundo a ONU, matando pelo menos 1.000 pessoas.

No decurso destes abusos, mulheres e raparigas foram violadas e sujeitas a outras formas de violência sexual, e os detidos foram torturados e sujeitos a outros maus-tratos, de acordo com a HRW.

A comunidade mundial deve apoiar e financiar as investigações do Tribunal Penal Internacional, defendeu a ONG. E as Nações Unidas, em coordenação com a União Africana, devem enviar urgentemente uma nova missão para proteger os civis em risco no Sudão, pediu.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve impor sanções específicas aos responsáveis por crimes graves no Darfur Ocidental, bem como aos indivíduos e empresas que violaram e estão a violar o embargo de armas e alargá-lo ao Darfur de modo a abranger todo o Sudão, concluiu.

O conflito no Sudão, que evoluiu para a guerra a 15 de abril do ano passado, já causou a morte a cerca de 15 mil pessoas e obrigou 8,6 milhões de sudaneses a abandonarem o país, empurrando outros 18 milhões para uma situação de fome, de acordo com os dados das Nações Unidas, que tem chamado repetidamente a atenção para a escalada do conflito e para as abrangentes e duradouras consequências nos sudaneses.

Leia Também: UE já mobilizou 302 milhões desde o início do conflito no Sudão

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