Do partido de esquerda Smer, Robert Fico chegou em outubro do ano passado à liderança do Governo eslovaco pela terceira vez - já tinha desempenhado essas funções entre 2006 e 2010 e de 2012 a 2018 -, com uma coligação com a extrema-direita pró-Rússia, que lhe valeu a suspensão dos socialistas europeus.
O então secretário-geral do PS e primeiro-ministro português, António Costa, pediu na altura uma ação do Partido Socialista Europeu (PES) sobre o partido de Fico, o Direção - social-democracia (Smer-SSD), de origem social-democrata e nacionalista, sublinhando que fazer acordos com a extrema-direita é uma "linha vermelha".
Robert Fico fez campanha a prometer retirar os apoios à Ucrânia e cumpriu: no dia a seguir à posse do seu executivo, anunciou o fim do envio de armas para a Ucrânia, limitando o apoio dos eslovacos a "ajuda humanitária e civil".
A decisão implicou uma viragem da política externa deste país de 5,4 milhões de habitantes, membro da UE e da NATO, e que forneceu uma ajuda substancial a Kiev desde o início da invasão russa de fevereiro de 2022.
O seu partido conquistou 23% nas eleições legislativas também graças a um discurso anti-imigração que se assemelha ao do líder húngaro Viktor Orbán, um político que Fico admira.
Fico, 59 anos, é uma figura muito controversa na Eslováquia.
As suas posições sociais-democratas iniciais mudaram muito desde que foi forçado a demitir-se em 2018, na sequência do assassinato do jornalista Jan Kuciak, que investigava as ligações do crime organizado ao poder político.
Durante a pandemia de covid-19, enquanto estava na oposição, atacou as restrições impostas pelo governo e questionou o efeito das vacinas.
Desde o seu regresso ao poder, as suas reformas polémicas, como o encerramento da Procuradoria Anti-Corrupção, que investigava casos ligados ao seu partido, e a sua intenção de encerrar a atual rádio e televisão públicas, deram origem a protestos maciços.
O parlamento está também a analisar uma lei sobre as organizações não-governamentais (ONG) - que as obriga a revelar se recebem financiamento estrangeiro -, que a oposição compara a regras semelhantes na Rússia e na Hungria. Fico também fez campanha contra os direitos da comunidade LGBTQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, trans, intersexo e outras identidades).
As medidas controversas de Fico são vistas pela oposição como uma tentativa de consolidar o seu poder, limitar a independência judicial e restringir a liberdade de imprensa.
Ganhou reputação pelas suas tiradas contra jornalistas e enfrentou acusações criminais em 2022 por alegada criação de um grupo criminoso e abuso de poder.
Segundo analistas, o seu estilo agressivo provocou, nos últimos anos, um declínio da confiança do público nas instituições e exacerbou a polarização na sociedade.
A Presidente cessante, Zuzana Caputová, que Fico insultou repetidamente e descreveu como "agente americana", disse que não se candidatou à reeleição - apesar da sua grande popularidade - porque não podia aguentar mais cinco anos no cargo devido às ameaças de morte que ela e a sua família receberam.
Enquanto estava na oposição, o veterano político soube explorar o descontentamento gerado entre as classes desfavorecidas e nas zonas rurais pela inflação, a queda do poder de compra e a gestão errática da pandemia pela anterior coligação de centro-direita.
Fico opõe-se às quotas propostas pela UE para a distribuição solidária de refugiados no espaço europeu e criticou as sanções contra a Rússia após a sua invasão da Ucrânia.
Também afirmou que não iria autorizar a detenção do Presidente russo, Vladimir Putin, ao abrigo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional, se ele alguma vez se deslocasse à Eslováquia.
Fico iniciou a sua carreira política no Partido Comunista da Checoslováquia (KSC) em 1986 e continuou na Esquerda Democrática (SDL) dos comunistas reformados.
Em 1999, fundou o partido Smer (direção, em eslovaco), que se tornou a principal alternativa ao programa reformista liberal das coligações de centro-direita que governaram o país entre 1998 e 2006 e, depois, entre 2010 e 2012.
O primeiro-ministro eslovaco está "entre a vida e a morte", depois de ter sido baleado hoje "várias vezes", num ataque que o seu executivo classificou como uma "tentativa de assassinato".
O ataque ocorreu em Handlova, a cerca de 150 quilómetros da capital do país, Bratislava.
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