"São equipas realmente de elite, compostas por soldados muito válidos, muito dedicados, muito interessados em partilhar as experiências e em treinar connosco. São forças que eu estou confiante, não só pelo que vejo e pelo feedback que tenho, que se tornem numa referência neste tipo de unidades, especialmente porque são aquilo que consideramos adequado para o tipo de insurgência que se verifica em Cabo Delgado", disse o comandante, em entrevista à Lusa.
A EUTM-MOZ, liderada por Portugal, formou em quase dois anos mais de 1.650 militares comandos e fuzileiros moçambicanos, que constituem agora 11 companhias de Forças de Reação Rápida (QRF, na sigla em inglês), que já combatem o terrorismo em Cabo Delgado, bem como uma centena de formadores.
"A sua flexibilidade de emprego, a sua rapidez, todas essas caraterísticas são adequadas para aquele teatro de operações. É natural e eu noto com satisfação que continua a haver militares moçambicanos a querer fazer parte das QRF, é uma espécie de um certificado de qualidade", acrescentou o major-general João Gonçalves.
O Conselho da União Europeia (UE) anunciou este mês a prorrogação da missão de treino militar em Moçambique até 30 de junho de 2026, com um orçamento previsto de 14 milhões de euros para os próximos dois anos, que será apenas para o funcionamento da operação.
A nova missão vai incorporar uma alteração estratégica, passando a ser designada de Missão de Assistência Militar da UE em Moçambique (EUMAM Mozambique), com efeito a partir de 01 de setembro de 2024.
Ao longo dos últimos dois anos, numa missão liderada por Portugal, a União Europeia disponibilizou ainda 89 milhões de euros para fornecimento de material não letal que equipa agora estas 11 companhias QRF das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
"Considero que demos um incremento muito significativo na qualidade do desempenho global das FADM pela multidisciplinaridade do treino que fomos desenvolvendo com eles", sublinhou.
"Houve a criação de novas capacidades que as FADM não tinham, nomeadamente a especialização técnica, quer dos fuzileiros, quer dos comandos e a integração de uma coisa que não existia até ao momento, que são os controladores aéreos avançados que vão ser integrados nestas companhias e servem para promover o uso da componente aérea no teatro das operações. Esta capacidade não existia nas FADM, existe agora com elementos treinados para acompanhar cada uma destas 11 equipas de ação rápida", acrescentou o comandante.
Além da formação dos militares que integram estas companhias rápidas de forças especiais, e do seu equipamento, também foram formados instrutores "para que Moçambique adquira a capacidade autónoma de manter ou ampliarem" estas QRF.
Estas companhias já estão no terreno, em Cabo Delgado, formadas "com acrescido valor para enfrentar essa insurgência": "Não sou eu que o digo, são os próprios moçambicanos. Eu não quero ser avaliador do meu próprio trabalho, meu e dos meus antecessores, mas são as pessoas de Moçambique, as forças do Ruanda [que também atuam em Cabo Delgado], contactos que eu vou tendo com pessoas que operam no Teatro de Operações Norte, inclusive civis, que atestam dessa mais-valia do treino e do equipamento que a União Europeia também entregou".
A EUMAM Mozambique vai adaptar os objetivos estratégicos, transitando de um modelo de treino para um de assistência com aconselhamento e "treino especializado" destas companhias especiais.
O comandante defende que "a missão ter mudado para um novo paradigma" é "o corolário do reconhecimento do sucesso".
"Moçambique ficou satisfeito com esse sucesso e solicitou à União Europeia que estendesse a missão e, por outro lado, da parte da União Europeia, também há demonstração de satisfação com os resultados alcançados e como tal, se a parceria está a funcionar bem, vamos prolongá-la", disse ainda o major-general João Gonçalves, da Força Aérea Portuguesa.
A atual EUTM-MOZ integra 119 militares de 13 Estados-membros, mais de metade de Portugal, mas tem a particularidade de integrar outros dois países, fora da União Europeia, que contribuem com um militar cada, casos da Sérvia e de Cabo Verde.
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