"Este documento é mais uma tentativa irresponsável dos ocidentais de reescrever a história e consolidar uma interpretação das circunstâncias relacionadas com o conflito étnico no território da ex-Jugoslávia que responda aos seus interesses geopolíticos", comentou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.
A resolução foi aprovada por uma maioria de 84 votos a favor, 19 contra e um número invulgar de abstenções: 68.
Mais de 8.000 homens muçulmanos bósnios de Srebrenica foram mortos em julho de 1995, após a tomada do enclave pelas tropas sérvias da Bósnia, sob o comando do general Ratko Mladic.
O genocídio de Srebrenica foi oficialmente reconhecido em 2007, numa decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) e os instigadores do massacre, como Ratko Mladic ou o então presidente da Republika Srpska, Radovan Karadzic, foram condenados a prisão perpétua em sentenças de 2017 e 2016, respetivamente.
O Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, afirmou depois da aprovação do documento que a sua nação estava orgulhosa porque "aqueles que queriam estigmatizar" o seu povo "não tiveram sucesso".
"Somos uma nação orgulhosa de representar o povo dos corajosos (...) aqueles que queriam estigmatizar o povo sérvio, não conseguiram e nunca conseguirão", disse Vucic, após a votação do texto promovida pela Alemanha e pelo Ruanda.
A resolução também foi duramente criticada pelo embaixador russo nas Nações Unidas, Vasili Nebenzia, que a descreveu como "um capítulo muito triste da história" porque, observou, a resolução "tem o objetivo de demonizar um dos povos da ex-Jugoslávia".
Os muçulmanos bósnios elogiaram a resolução, considerando que é uma "lição importante para os criminosos", enquanto o líder sérvio separatista disse que a iniciativa fracassou.
As reações divergentes das lideranças dos dois grupos refletem as profundas divisões que persistem na Bósnia-Herzegovina, quase 30 anos após o fim da guerra que devastou o país dos Balcãs.
"Hoje foi dada uma lição importante aos perpetradores, aos criminosos e àquela parte da humanidade que ainda não sabe a diferença entre o bem e o mal", declarou Nermin Niksic, presidente do órgão comum de muçulmanos bósnios e croatas, que juntamente com a comunidade sérvia forma o Estado da Bósnia-Herzegovina.
"Srebrenica é a verdade que devemos sempre pronunciar em voz alta, não para regressar ao passado, mas para o futuro", defendeu Niksic, citado pelo portal bósnio Klix.
Por seu lado, o líder sérvio da Bósnia e presidente da Republika Srpska, o separatista Milorad Dodik, que nega que o massacre de Srebrenica tenha sido um genocídio, interpretou que a iniciativa nas Nações Unidas fracassou.
"Cerca de 110 países não votaram a favor, votaram contra ou abstiveram-se. Esta foi uma resolução falhada, o que significa que a ONU não a apoiou", afirmou o político, segundo o portal Nezavisne.
Para Dodik, a intenção dos autores da resolução (Alemanha e Ruanda) "de impor o caráter genocida e a desqualificação moral dos sérvios não teve sucesso".
Dodik, conhecido pelas suas posições nacionalistas e pró-Rússia e pelos seus repetidos anúncios de possíveis iniciativas separatistas, anunciou que a entidade sérvia-bósnia planeia propor uma "separação pacífica" ao órgão muçulmano-croata no prazo de 30 dias.
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