Eleições na África do Sul poderão acentuar divisões após fim do apartheid

As eleições gerais de quarta-feira na África do Sul poderão acentuar as divisões no país, trinta anos após o advento da democracia e o fim do 'apartheid', segundo um responsável do enclave separatista branco de Orania.

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Lusa
28/05/2024 17:55 ‧ 28/05/2024 por Lusa

Mundo

África do Sul

"Se as eleições conduzirem à formação de uma coligação entre os partidos mais radicais, isso só reforçará a determinação de certos 'afrikaners' rurais (descendentes de holandeses na sua maioria) em seguir o seu próprio caminho", declarou Wynand Boshoff, deputado e dirigente provincial do partido FF Plus.

Orania, um enclave branco que está a ser acusado de racismo, foi fundado no início dos anos 90, após o colapso do regime de segregação do 'apartheid', com o objetivo de proteger a cultura e a língua dos 'afrikaners' brancos da maioria negra sul-africana.

Atualmente, a cidade tem uma população de 2.800 habitantes, uma gota no oceano num país de quase 60 milhões de habitantes.

No poder desde 1994, o Congresso Nacional Africano (ANC) poderá, de acordo com as sondagens, perder a maioria absoluta no Parlamento e forjar alianças para formar um Governo de coligação.

À esquerda, a possibilidade é com os Combatentes da Liberdade Económica (EFF), que prometem reformas radicais como a redistribuição das terras e a nacionalização de setores económicos fundamentais. Ou com o uMkhonto we Sizwe (MK), o partido do ex-presidente e antigo líder do ANC, Jacob Zuma.

"Orania ganhará importância se esta coligação se concretizar", porque os 'afrikaners' "sentirão, com razão, que estão a ser marginalizados a tal ponto que, a certa altura, isso poderá ser fatal para eles", sublinha Boshoff, 53 anos, neto do primeiro-ministro assassinado da era do 'apartheid', Hendrik Verwoerd.

"É como se as pessoas não se apercebessem de que perdemos o país há 30 anos. Mas se o EFF ou o MK fizerem parte do Governo, de repente vão aperceber-se de que o perdemos", insistiu.

Localizada a 870 km da Cidade do Cabo, Orania situa-se no deserto de Karoo, nas margens do rio Orange, cobrindo uma área de 8.000 hectares.

O partido 'afrikaner' FF Plus tem dez lugares na Assembleia Nacional, onde existem 400 lugares.

O seu programa não é abertamente separatista, mas pretende abolir as medidas do ANC para a emancipação económica da maioria negra, que considera discriminatórias.

O ANC está no poder desde que Nelson Mandela venceu, em 1994, as primeiras eleições multirraciais.

As últimas sondagens apontam que o ANC deverá continuar o declínio eleitoral iniciado em 2014, podendo perder a maioria absoluta nas eleições de quarta-feira.

O ANC detém atualmente 230 dos 400 assentos parlamentares (57,50%), enquanto o Aliança Democrática (DA), liberal de centro-direita, e os Combatentes da Liberdade Económica (EFF), de esquerda radical, têm 84 (20,77%) e 44 lugares (10,79%), respetivamente. O Partido Livre Inkatha (IFP), de base tradicional zulu, é a quarta força política com 14 deputados (3,38%) no parlamento.

Leia Também: Jurista. ANC governará África do Sul até 2029 com liderança alargada

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