"Se as eleições conduzirem à formação de uma coligação entre os partidos mais radicais, isso só reforçará a determinação de certos 'afrikaners' rurais (descendentes de holandeses na sua maioria) em seguir o seu próprio caminho", declarou Wynand Boshoff, deputado e dirigente provincial do partido FF Plus.
Orania, um enclave branco que está a ser acusado de racismo, foi fundado no início dos anos 90, após o colapso do regime de segregação do 'apartheid', com o objetivo de proteger a cultura e a língua dos 'afrikaners' brancos da maioria negra sul-africana.
Atualmente, a cidade tem uma população de 2.800 habitantes, uma gota no oceano num país de quase 60 milhões de habitantes.
No poder desde 1994, o Congresso Nacional Africano (ANC) poderá, de acordo com as sondagens, perder a maioria absoluta no Parlamento e forjar alianças para formar um Governo de coligação.
À esquerda, a possibilidade é com os Combatentes da Liberdade Económica (EFF), que prometem reformas radicais como a redistribuição das terras e a nacionalização de setores económicos fundamentais. Ou com o uMkhonto we Sizwe (MK), o partido do ex-presidente e antigo líder do ANC, Jacob Zuma.
"Orania ganhará importância se esta coligação se concretizar", porque os 'afrikaners' "sentirão, com razão, que estão a ser marginalizados a tal ponto que, a certa altura, isso poderá ser fatal para eles", sublinha Boshoff, 53 anos, neto do primeiro-ministro assassinado da era do 'apartheid', Hendrik Verwoerd.
"É como se as pessoas não se apercebessem de que perdemos o país há 30 anos. Mas se o EFF ou o MK fizerem parte do Governo, de repente vão aperceber-se de que o perdemos", insistiu.
Localizada a 870 km da Cidade do Cabo, Orania situa-se no deserto de Karoo, nas margens do rio Orange, cobrindo uma área de 8.000 hectares.
O partido 'afrikaner' FF Plus tem dez lugares na Assembleia Nacional, onde existem 400 lugares.
O seu programa não é abertamente separatista, mas pretende abolir as medidas do ANC para a emancipação económica da maioria negra, que considera discriminatórias.
O ANC está no poder desde que Nelson Mandela venceu, em 1994, as primeiras eleições multirraciais.
As últimas sondagens apontam que o ANC deverá continuar o declínio eleitoral iniciado em 2014, podendo perder a maioria absoluta nas eleições de quarta-feira.
O ANC detém atualmente 230 dos 400 assentos parlamentares (57,50%), enquanto o Aliança Democrática (DA), liberal de centro-direita, e os Combatentes da Liberdade Económica (EFF), de esquerda radical, têm 84 (20,77%) e 44 lugares (10,79%), respetivamente. O Partido Livre Inkatha (IFP), de base tradicional zulu, é a quarta força política com 14 deputados (3,38%) no parlamento.
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