"Recuso-me a acreditar que a grandeza da América pertença ao passado", declarou Biden, num contraste implícito com o ex-presidente Donald Trump, referindo-se ao heroísmo dos 'rangers' do Exército norte-americano que escalaram os penhascos costeiros de Pointe du Hoc, na região francesa da Normandia, na invasão do Dia D, há 80 anos, e participaram numa das mais duras batalhas do desembarque aliado.
"Quem pode duvidar que eles (os soldados norte-americanos que combateram na Segunda Guerra Mundial) quereriam que a América lutasse contra a agressão de Putin à Europa? (...) Quem pode crer que esses 'rangers' quereriam que a América se isolasse hoje? (...) Quem pode duvidar de que eles moveriam céu e terra para derrotar os ideólogos do ódio hoje?", perguntou Biden em Pointe du Hoc, o promontório rochoso tomado à Alemanha nazi a 06 de junho de 1944.
O mesmo local ficou gravado na memória política da nação em 1984, quando o então Presidente, Ronald Reagan, homenageou os "rapazes de Pointe du Hoc" e estabeleceu uma comparação entre o seu improvável feito contra a tirania da Alemanha nazi e o conflito da época, a Guerra Fria, contra a União Soviética.
Biden pretendeu, assim, recordar ambos os momentos históricos para promover a sua própria perspetiva do papel global dos Estados Unidos da América (EUA), num contexto de duas devastadoras guerras (a agressão russa à Ucrânia e a ofensiva militar de Israel contra o movimento islamita palestiniano na Faixa de Gaza) e a teimosia do ex-presidente Trump, que continua a mentir sobre a sua derrota nas eleições presidenciais de 2020 e ameaçou destruir os compromissos de Washington no exterior, segundo referiram as agências internacionais.
"Reunimo-nos aqui hoje, não apenas para homenagear aqueles que mostraram uma bravura notável no dia 06 de junho de 1944, mas para ouvir o eco das suas vozes. Para os ouvir. Porque eles estão a inquirir-nos. Estão a perguntar-nos o que vamos fazer. Não estão a pedir-nos para escalar estes penhascos. Estão a pedir-nos para nos mantermos fiéis ao que a América representa", sublinhou.
Embora tratando-se claramente de um discurso oficial, proferido um dia depois de Biden assinalar o aniversário do desembarque na Normandia, em cerimónias solenes ao lado dos aliados, já se previa que as suas declarações estivessem cheias de conotações políticas, uma vez que a sua campanha está apostada em conquistar os eleitores Republicanos preocupados com a segurança nacional, que adoraram Reagan e nunca se entusiasmaram com a política externa de "A América Primeiro" de Trump, apontou a agência norte-americana AP.
No dia anterior, Biden prestou homenagem às tropas do Dia D numa cerimónia emotiva no Cemitério Norte-Americano da Normandia, que contou também com a presença de dezenas de veteranos com mais de 90 anos.
Enquanto um oficial da Marinha recitava "The Watch", afirmando que uma nova geração estava a assumir o seu lugar em defesa da liberdade, e uma salva de 21 canhões lançava fumo sobre 9.388 lápides de mármore branco, o Presidente norte-americano baixou os olhos e ergueu um punho no ar, enquanto um caça F-35 efetuava um voo de saudação aos mortos em combate.
Joe Biden, de 81 anos, nem sequer a uma geração de distância dos combatentes da Normandia, apresentou-se a si próprio - e aos Estados Unidos - como seus herdeiros na eterna luta entre liberdade e tirania.
Mas a vontade do país de assumir essa passagem de testemunho nunca foi, em muitos aspetos, tão incerta como atualmente, com a possibilidade do regresso de Trump à Casa Branca, escreveu ainda a agência noticiosa norte-americana ao relatar a passagem de Biden por Pointe du Hoc.
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