Na capital do país, Nairobi, onde a marcha reuniu pelo menos várias centenas de pessoas, segundo um jornalista da agência de notícias France-Presse (AFP) no local, a manifestação deu origem a alguns confrontos, com os manifestantes a atirarem pedras à polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo.
Perante o descontentamento crescente, o Governo do Presidente, William Ruto, anunciou na terça-feira que retirava a maior parte das medidas fiscais previstas no projeto de orçamento. Mas os manifestantes exigem que o texto seja retirado na totalidade.
A manifestação nacional insere-se no movimento de protesto "Ocupar o parlamento", lançado na semana passada nas redes sociais contra o projeto do Governo de criar novos impostos, incluindo uma IVA de 16% sobre o pão e um imposto anual de 2,5% sobre os veículos particulares, para financiar o orçamento de 2024-25.
Hoje, os manifestantes marcharam com apitos e vuvuzelas nos bastiões da oposição, Mombaça (leste) e Kisumu (oeste), em Eldoret (oeste), no Vale do Rift, de onde é natural o Presidente, e nas cidades de Nanyuki (centro), Nakuru (centro), Nyeri (centro), Kisii (sudoeste).
Entre os jovens manifestantes de Nairobi, Ivy disse à AFP que tinha vindo porque, tal como muitos jovens quenianos, tem "medo pelo futuro".
"Tenho medo do que me espera nos próximos anos. Não consigo encontrar um emprego, não consigo pagar certas contas, não consigo abrir um negócio que me permita viver durante muito tempo", explica a jovem desempregada.
"Como Geração Z, vamos mudar e eles vão ficar chocados. Isto é apenas o início", diz.
Bella, uma estudante de 22 anos, desconfia do Governo. "Estão a tentar mentir-nos, os impostos que retiraram do pão acrescentaram outros", afirmou Bella, que refere estar a manifestar-se pela primeira vez.
Para compensar a supressão de impostos anunciada na terça-feira, o Governo está agora a considerar a possibilidade de aumentar os impostos sobre os combustíveis e os produtos exportados.
Segundo a oposição, esta medida é suscetível de aumentar o custo de vida, já sobrecarregado pelos aumentos do ano passado do imposto sobre o rendimento, as contribuições para a saúde e pela duplicação do IVA sobre a gasolina.
Os manifestantes compararam também o chefe de Estado - um fervoroso evangelista eleito em agosto de 2022 com a promessa de defender os mais modestos - a Zakayo, o nome swahili de Zaqueu, a figura bíblica do cobrador de impostos.
No parlamento, os debates sobre o orçamento prosseguiram hoje, numa sessão extraordinária, com vista a uma votação até 30 de junho. Uma fonte parlamentar disse à AFP que a votação está atualmente prevista para 27 de junho.
Para o Governo, as medidas orçamentais dolorosas são necessárias para restaurar a margem de manobra do país face a uma dívida pesada.
O Quénia, uma das economias de crescimento mais rápido da África Oriental, registou uma inflação homóloga de 5,1% em maio, com os preços dos alimentos e dos combustíveis a aumentarem 6,2% e 7,8%, respetivamente, de acordo com o Banco Central.
O crescimento do PIB (produto interno bruto) deverá abrandar para 5% este ano, depois de atingir 5,6% em 2023 (4,9% em 2022), de acordo com o Banco Mundial.
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