França foi a votos no domingo e a afluência que se deu logo pela manhã (até ao meio-dia já tinham votado 25% dos eleitores) já dava indícios daquilo que mais tarde se viria a confirmar: Uma viragem na direção da Extrema-direita, que vai 'obrigar' alguns dirigentes a sacrificarem-se para travar este caminho.
Em causa estão os resultados da União Nacional (Rassemblement National, RN) de Marine Le Pen e Jordan Bardella, que arrecadaram 33,15% dos votos, de acordo a informação do Ministério do Interior francês.
A coligação que reúne vários partidos de Esquerda, a Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire) ficou em segundo lugar, com 27,99%. A coligação Ensemble, do presidente Emmanuel Macron, ficou em terceiro com 20,83%.
União Nacional lidera, mas franceses ainda têm de voltar às urnas
Segundo as projeções para a segunda volta, a União Nacional e os seus aliados podem alcançar a maioria absoluta da Assembleia Nacional. É de notar que as informações mais recentes dão conta de que a participação terá sido entre 65,8% e 69%, o valor mais elevado numa primeira volta nas eleições legislativas desde 1981, um sinal do grande interesse que gerou entre os franceses.
A elevada participação dos eleitores parece refletir o ambiente de grande agitação face às sondagens que apontam para uma vitória da União Nacional, de Marine Le Pen e Jordan Bardella.
E as reações?
Bloco 'macronista' aniquilado" e "veredicto indiscutível"
As primeiras projeções, que davam esta liderança do partido de Extrema-Direita não se enganaram, e face aos resultados, as reações não tardaram, com a líder da União Nacional, Marine Le Pen, a não só regozijar-se com o resultado do seu partido, como a atacar o de Emmanuel Macron. Le Pen considerou que os franceses mostraram "o seu desejo de virar a página de sete anos de poder desdenhoso e corrosivo" do chefe de Estado e que o "bloco 'macronista'" foi "praticamente aniquilado".
"Não há nada mais normal do que a alternância política, para isso, precisamos de uma maioria absoluta", por forma a não deixar alternativa ao presidente Emmanuel Macron que não seja a de nomear o candidato do RN, Jordan Bardella, à liderança do governo, afirmou a líder, apelando ao voto dos franceses.
O mesmo discurso teve o aliado de Le Pen, Jordan Bardella, que disse ainda que já com a primeira volta os franceses deram um "veredicto indiscutível" e mostraram que "claramente querem uma mudança". Bardella defendeu que, com os resultados de hoje, a coligação presidencial [Ensemble] "já não pode ganhar" as legislativas, pelo que França tem agora uma escolha entre "dois caminhos: de um lado, a aliança do pior, a Nova Frente Popular, unidos atrás do Jean-Luc Mélenchon, que levaria o país à desordem, à insurreição e à ruína e do outro, a União Nacional".
Bardella falava da coligação que ficou em segundo lugar, acima do partido de Macron. Mas em reação aos resultados, os dirigentes da Nova Frente Popular Jean-Luc Mélenchon e Olivier Faure anunciaram que vão retirar as suas candidaturas nas circunscrições em que ficaram em terceiro lugar e onde existe risco de ganhar a extrema-direita francesa.
Apesar de o duelo final ser entre a Nova Frente Popular e a União Nacional, nos casos em que houver circunscrições com três candidatos a NFP retirará todos os seus candidatos que tenham ficado na terceira posição, para evitar dividir os votos e travar a vitória da Extrema-Direita.
"Há que dar uma maioria absoluta à NFP, que chega como a única alternativa" à extrema-direita, alegou Mélenchon, mostrando-se otimista quanto a uma melhoria do resultado da força que integra na segunda volta, que decorrerá domingo, a 7 de julho.
"Nem um único voto"
Já o primeiro-ministro, que tomou posse ainda este ano, e candidato pela coligação presidencial, Gabriel Attal, apelou aos eleitores para que não deem "nem um único voto" ao partido de extrema-direita União Nacional, que ficou à frente na primeira volta das eleições legislativas. "Digo isto com a força com que apelo a todos e a cada um dos nossos eleitores, nem um voto deve ir para a União Nacional, nestas circunstâncias, França merece que nunca hesitemos", disse Gabriel Attal, numa intervenção após a projeção dos resultados das eleições legislativas, em Paris.
Já o presidente, Emmanuel Macron, pediu "uma união ampla claramente democrática e republicana" contra a Extrema-Direita na segunda volta das legislativas, em face da ampla vitória desta apontada pelas primeiras projeções.
Já, François Hollande, o ex-presidente e candidato nas legislativas francesas pela coligação de esquerda Nova Frente Popular apelou à "união mais ampla possível" para a segunda volta contra a Extrema-direita. Hollande atirou ainda que é preciso ter "consciência" de que a união é necessária para impedir uma eventual maioria absoluta da extrema-direita na Assembleia Nacional. Esta união deve ser "o mais ampla possível", disse no domingo.
O que levou a estas eleições?
Após o resultados das eleições europeias, que deu 31,5% dos votos à RN, Macron decidiu dissolver a Assembleia Nacional. "Não posso agir como se nada tivesse acontecido", disse o chefe de Estado quando na noite em que foram conhecidos os resultados, a 9 de junho. Durante o seu discurso, o presidente francês considerou ainda que o resultado em causa "não é bom para os partidos que defendem a Europa".
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