"É evidente que no mundo atual a democracia, digamos a verdade, não está de boa saúde. A questão interessa-nos e preocupa-nos porque está em jogo o bem da humanidade", lamentou o pontífice perante um milhar de pessoas reunidas em Trieste, no nordeste de Itália, para o encerramento da Semana Social organizada pela Igreja Católica italiana.
Sem nomear nenhum país, Francisco alertou contra as "tentações ideológicas e populistas", no mesmo dia em que a França vota na segunda volta das eleições legislativas, que poderão ser ganhas pela extrema-direita.
"As ideologias são sedutoras. Há quem as compare ao homem que tocava flauta em Hamelin. São sedutoras, mas obrigam-nos a negarmo-nos a nós próprios", disse.
Antes das eleições europeias, os bispos de vários países já tinham manifestado a sua preocupação com a ascensão do populismo e do nacionalismo na Europa, com a extrema-direita já no poder em Itália, na Hungria e na Holanda.
O líder da Igreja Católica manifestou também a sua preocupação com o aumento da taxa de abstenção em todo o mundo: "Estou preocupado com o pequeno número de pessoas que vão votar: o que é que isso significa?".
"A própria palavra 'democracia' não coincide simplesmente com o voto popular, mas exige que sejam criadas as condições para que todos se possam exprimir e participar. E a participação não se improvisa, aprende-se desde tenra idade, tem de ser 'treinada', também com sentido crítico face às tentações ideológicas e populistas", disse.
O Papa, na sua intervenção, denunciou ainda o que considera obstáculos à democracia, como a corrupção e ilegalidade, exclusão social, marginalização e indiferença.
"Sempre que alguém é marginalizado, todo o corpo social sofre. A cultura da rejeição cria uma cidade onde não há lugar para os pobres, os nascituros, os frágeis, os doentes, as crianças, as mulheres e os jovens", lamentou, apelando a que se promova a participação desde a infância.
No seu discurso, Francisco destacou, por outro lado, a contribuição que o cristianismo pode dar ao desenvolvimento cultural e social europeu, especialmente em questões relacionadas com a vida e a dignidade das pessoas, como propôs ao Parlamento Europeu no final de 2014.
O Papa, foi também muito crítico para com certas formas de assistencialismo, a ajuda pública aos cidadãos que não se podem sustentar inteiramente por si mesmos.
"Todos devem sentir-se parte de um projeto comunitário, ninguém deve sentir-se inútil. Certas formas de assistência que não reconhecem a dignidade das pessoas são uma hipocrisia social. O assistencialismo, por si só, é inimigo da democracia e do amor ao próximo", afirmou, acrescentando: "A indiferença é o cancro da democracia".
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