A decisão foi anunciada pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros indiano, Vinay Kwatra, num 'briefing' em Moscovo, após uma reunião entre o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o Presidente russo, Vladimir Putin, no final de uma visita oficial do líder indiano a Moscovo, a primeira desde o início da guerra na Ucrânia.
Nova Deli levantou esta questão em março e, na altura, a agência federal de investigação do país afirmou ter desmantelado uma rede que atraía pessoas para a Rússia sob o pretexto de lhes dar emprego, tendo sido enviados pelo menos 35 indianos.
Segundo a agência, os homens foram treinados para funções de combate e enviados para a guerra na Ucrânia contra a sua vontade, tendo alguns deles ficado "gravemente feridos".
"O primeiro-ministro levantou com veemência [perante Putin] a questão da dispensa antecipada dos cidadãos indianos que foram induzidos em erro ao serviço do exército russo", disse Kwatra.
"Isso foi fortemente abordado pelo primeiro-ministro e o lado russo prometeu dispensar rapidamente os cidadãos indianos do serviço do exército russo", acrescentou.
Em setembro de 2022, Putin anunciou uma "mobilização parcial" para o exército num decreto que também proibia os soldados contratados de dar por terminado o serviço militar, com algumas exceções por idade e saúde.
Modi encontrou-se hoje com Putin em Moscovo, tendo com o objetivo aprofundar a relação entre as duas potências nucleares numa altura em que os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) se reuniram em Washington e a Rússia lançou ataques mortíferos com mísseis na Ucrânia que atingiram um hospital pediátrico.
"A nossa relação é a de uma parceria estratégica particularmente privilegiada", disse Putin a Modi, que evitou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia, enfatizando uma solução pacífica para o conflito.
A parceria tornou-se mais complicada, no entanto, à medida que a Rússia se aproximou da China, numa altura de isolamento internacional de Moscovo pela invasão da Ucrânia.
Modi não participou na cimeira da semana passada no Cazaquistão de uma organização de segurança fundada por Moscovo e Pequim.
O primeiro-ministro da Índia chegou a Moscovo na segunda-feira, pouco depois de os mísseis russos terem atingido toda a Ucrânia, danificando gravemente o maior hospital pediátrico de Kiev e matando pelo menos 42 pessoas em todo o país, incluindo crianças, segundo as autoridades.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, criticou a receção calorosa após o ataque a Kiev.
"É uma grande deceção e um golpe devastador para os esforços de paz ver o líder da maior democracia do mundo abraçar o criminoso mais sanguinário do mundo em Moscovo num dia como este", sublinhou Zelensky.
Hoje, Modi aludiu ao derramamento de sangue ao falar sobre o seu encontro com Putin, que incluiu mais de quatro horas de conversações.
"Quer se trate de uma guerra, de uma luta ou de um ataque terrorista, qualquer pessoa que acredite na humanidade, quando há perda de vidas, sente-se magoada. Quando crianças inocentes são mortas, quando vemos crianças inocentes a morrer, então o coração dói. E essa dor é muito horrível", afirmou o primeiro-ministro indiano.
Modi disse que os dois líderes partilharam opiniões sobre a Ucrânia "com o coração aberto e em pormenor". "Ouvimo-nos respeitosamente".
"Não é possível encontrar uma solução no campo de batalha. Entre bombas, armas e balas, uma solução e conversações de paz não podem ser bem-sucedidas. E temos de adotar o caminho da paz apenas através de conversações", acrescentou.
O porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, também criticou a visita de Modi num 'briefing' em Washington.
"Deixámos bem claro e diretamente à Índia as nossas preocupações sobre as suas relações com a Rússia. E esperamos que a Índia e qualquer outro país, quando se envolverem com a Rússia, deixem claro que a Rússia deve respeitar a Carta das Nações Unidas, deve respeitar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia".
Em comentários transmitidos pela televisão, Putin afirmou que "todas as questões" foram discutidas com Modi.
A viagem de Modi foi objeto de uma cobertura extensa no seu país, incluindo a colocação de uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido, no muro do Kremlin. Mas a cobertura do ataque mortífero da Rússia perpetrado segunda-feira na Ucrânia foi silenciada.
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