"As nossas conversações [no final da semana passada em Moscovo, com o Presidente russo, Vladimir Putin], tal como em Kiev com o Presidente [ucraniano, Volodymyr] Zelensky, serviram o objetivo de conhecer em primeira mão a posição [...] sobre os vários assuntos importantes do ponto de vista da paz. Por conseguinte, não apresentei qualquer proposta nem formulei qualquer opinião em nome do Conselho Europeu ou da União Europeia", vinca Viktor Órban, numa carta enviada a Michel e também endereçada aos chefes de Governo e de Estado da UE.
A missiva, a que a agência Lusa teve hoje acesso, é datada da passada sexta-feira, dia em que o primeiro-ministro húngaro se deslocou de surpresa a Moscovo, uma ação que provocou críticas em Bruxelas, nomeadamente de Charles Michel, por esta não ser uma representação da UE quando a Hungria detém este semestre a presidência rotativa do Conselho, mas sim uma iniciativa bilateral.
"As várias declarações e observações críticas que têm sido articuladas nos últimos dias e que sugerem o contrário são infundadas", acrescenta Viktor Órban.
A 01 de julho, a Hungria assumiu a presidência rotativa do Conselho da UE, que vai liderar até final do ano, e desde então o primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, já realizou deslocações oficiais à Ucrânia (no início da semana passada), à Rússia (sexta-feira), ao Azerbaijão e países vizinhos (no fim de semana) e à China (esta segunda-feira).
As visitas geraram várias críticas em Bruxelas e as garantias de que as iniciativas têm ocorrido no quadro das relações bilaterais e não em representação europeia.
Na quarta-feira, os embaixadores dos países junto da UE vão precisamente discutir o papel da presidência húngara rotativa do Conselho, perante uma "preocupação crescente nas capitais" sobre as polémicas deslocações do primeiro-ministro húngaro.
Isto porque, de acordo com uma fonte europeia ouvida pela Lusa, Viktor Órban tem "deixado intencionalmente muita ambiguidade" nestas deslocações, ao exibir por exemplo o logótipo da presidência húngara do Conselho da UE.
Indiferente às críticas, Viktor Órban assegura na carta a que a Lusa teve hoje acesso que irá prosseguir as suas "conversações com o objetivo de clarificar as possibilidades de paz", nomeadamente esta semana.
O primeiro-ministro húngaro justifica aquela que designou como a sua "missão de paz" por, de momento, as possibilidades de paz serem "reduzidas pelo facto de os canais diplomáticos estarem bloqueados e de não existir um diálogo direto".
É esta situação que Viktor Órban quer mudar através de novos canais de comunicação, argumentando na missiva que, após tais deslocações, já existe "uma maior probabilidade de uma receção positiva de todas as propostas possíveis para um cessar-fogo e para um roteiro para as conversações de paz".
"O tempo é um fator decisivo, tendo em conta a intensificação dos combates e o rápido aumento das baixas humanas. Se não conseguirmos travar ou parar este processo, nos próximos dois meses assistiremos a perdas e desenvolvimentos militares mais dramáticos do que nunca nas linhas da frente", adianta Órban.
Na missiva, o responsável faz ainda referência aos "efeitos económicos negativos da guerra [que] representam um grande peso na vida quotidiana dos cidadãos e na competitividade da UE", defendendo um "período de crescimento económico baseado numa paz duradoura".
A Hungria assume este semestre a presidência rotativa do Conselho da UE, com o mote "Tornar a Europa Grande de Novo".
Leia Também: "Não parece ser construtiva". EUA criticam visita de Viktor Orbán à China