Num discurso transmitido pela televisão em homenagem a um comandante do movimento pró-iraniano, Mohammed Nasser, morto por Israel no início de julho, Nasrallah reiterou que, em caso de acordo, o movimento xiita libanês pró-iraniano porá termo aos ataques a partir do sul do Líbano.
Desde o dia seguinte ao início da guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano, a 07 de outubro de 2023, o Hezbollah e o exército israelita trocam diariamente tiros transfronteiriços, com o movimento pró-iraniano a afirmar que intervém em apoio do seu aliado Hamas.
As trocas de tiros fazem temer uma guerra em maior escala.
"O que o Hamas aceita, nós aceitamos [...] e o que satisfaz o Hamas, satisfaz-nos a nós. Além disso, não lhes pedimos que se coordenem connosco porque a batalha é, antes de mais, deles", declarou Nasrallah.
As negociações indiretas para tentar chegar a um cessar-fogo em Gaza deverão ser retomadas no Qatar, na presença do diretor da CIA, William Burns, e do chefe da Mossad israelita, David Barnea.
No domingo, o Hamas declarou, segundo um responsável do movimento islamita, que já não exigia um cessar-fogo permanente antes de qualquer negociação sobre a libertação dos reféns.
Israel, por seu lado, afirma que pretende continuar a guerra até que o Hamas seja destruído.
Hoje, no seu discurso, Nasrallah reafirmou que, no caso de um acordo de cessar-fogo, "esperado por todos", o Hezbollah "inquestionavelmente cessará hostilidades".
Em resposta ao ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant, que afirmou que Israel "continuará a lutar e a fazer tudo o que for necessário" contra o Hezbollah, "mesmo que haja um cessar-fogo" em Gaza, Nasrallah afirmou que o movimento não tolerará "qualquer agressão que o inimigo israelita possa efetuar contra o Líbano em caso de cessar-fogo em Gaza, mesmo que isso seja altamente improvável".
"A resistência, que lança centenas de foguetes e dezenas de 'drones' num só dia contra alvos sensíveis no norte, a 30 e 35 quilómetros de distância [...] mostra que não tem medo da guerra e está pronta para qualquer eventualidade", acrescentou.
Entretanto, na Faixa de Gaza, Hossam Badran, alto dirigente do Hamas, frisou que a "intensificação dos massacres" israelitas tem como consequência o reforço das reivindicações do movimento islamita, numa altura em que as negociações devem ser retomadas com vista a um cessar-fogo.
Questionado pela agência noticiosa France-Presse (AFP) sobre as operações israelitas na cidade de Gaza, onde o exército intensificou a ofensiva nos últimos dias, Badran considerou que Israel está a tentar "pressionar as negociações, intensificando os bombardeamentos, as deslocações e os massacres, na esperança de que a resistência [os grupos armados] ceda às suas reivindicações legítimas".
"Mas o resultado será o oposto, porque os massacres levam-nos a manter as nossas exigências de fim da guerra e de retirada de Gaza", acrescentou.
O exército israelita, que declarou em janeiro ter desmantelado a "estrutura militar" do Hamas no norte de Gaza, intensificou os seus ataques nos últimos dias, obrigando dezenas de milhares de pessoas a deslocarem-se.
Ao mesmo tempo, o exército atacou quatro escolas em quatro dias, matando pelo menos 49 pessoas, segundo fontes em Gaza, incluindo o Hamas. Israel afirmou estar a atacar "terroristas".
Segunda-feira, o líder político do movimento islamista, Ismail Haniyeh, disse ter avisado os mediadores que as "consequências catastróficas" dos atuais acontecimentos poderiam "levar as negociações de volta à estaca zero".
Depois de meses de esforços infrutíferos, estão previstas novas conversações no Qatar para tentar fazer progressos no sentido de um cessar-fogo e da libertação dos reféns raptados durante o ataque sem precedentes do Hamas a 07 de outubro.
"Não podemos ter a certeza até onde irão as negociações, apesar da flexibilidade que demonstrámos", afirmou Badran, acusando o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de tentar "impedir que se chegue a um acordo por razões puramente pessoais".
O ataque do Hamas, que desencadeou a guerra, causou a morte de 1.200 pessoas do lado israelita, na sua maioria civis, tendo sido sequestradas também cerca de 240 pessoas.
Israel prometeu destruir o Hamas, que tomou o poder em Gaza em 2007.
A campanha militar de retaliação devastou a Faixa de Gaza, matando 38.295 pessoas, na sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
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