Depois de, no mês passado, ter sido a única líder europeia a votar contra as escolhas para os cargos de topo da União Europeia, incluindo o de António Costa para presidente do Conselho Europeu -- mas abstendo-se no caso da recondução de Von der Leyen, líder com a qual parecia ter construído uma relação próxima ao longo dos últimos meses -, Meloni manteve a incógnita sobre o sentido de voto dos Irmãos de Itália na eleição de hoje até ao derradeiro momento, tendo o partido revelado após a votação que votou contra.
Von der Leyen foi eleita para um novo mandato de cinco anos à frente do executivo comunitário com 401 votos a favor (bem acima dos 360 necessários), graças ao apoio do Partido Popular Europeu (PPE, principal família política, à qual pertence), Socialistas Europeus, Liberais e também Verdes
A dirigente alemã contou, no entanto, apenas com o apoio de um dos três partidos que formam o Governo de coligação em Itália, o Força Itália (PPE), já que aos votos contra da Liga, de Matteo Salvini (Patriotas pela Europa, extrema-direita) juntaram-se também os dos 24 eurodeputados dos 'Fratelli d'Italia', partido de direita radical de Meloni.
As explicações para o voto contra foram dadas em Estrasburgo (França) pelos dois principais responsáveis da delegação dos Irmãos de Itália -- principal força política do grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR, direita radical) -, Carlos Fidanza e Nicola Procaccini, que deploraram o facto de a dirigente alemã ter procurado apoios à esquerda e, designadamente, ter colhido o apoio da bancada dos Verdes.
"As escolhas feitas por Ursula von der Leyen nos últimos dias, as orientações políticas, a procura de apoios à esquerda, indo até aos Verdes, tornaram impossível o nosso apoio à sua recondução. A forte mensagem de mudança que saiu das urnas a 09 de junho não foi ouvida", disse, numa conferência de imprensa em Estrasburgo, o líder da delegação, Carlos Fidanza.
"Para nós, votar em Von der Leyen teria significado ir contra alguns dos nossos princípios. Algumas questões impossibilitavam-nos de votar a favor", apontou por seu lado o eurodeputado Procaccini, vice-presidente do ECR, grupo presidido por Meloni.
Os dois responsáveis defenderam, todavia, que o voto contra de hoje do partido contra a recondução de Von der Leyen não afetará a relação institucional entre Roma e Bruxelas, afirmando-se convictos de que a Itália terá na próxima «Comissão Von der Leyen» o papel "que merece".
De acordo com a imprensa italiana, nos dias que antecederam a votação de hoje em Estrasburgo, Meloni falou por duas vezes ao telefone com Von der Leyen, não tendo recebido as garantias que desejava para dar o seu apoio à dirigente alemã, entre as quais uma vice-presidência executiva na próxima Comissão.
Apesar de Von der Leyen ter anunciado hoje algumas medidas que vão ao encontro de ideias defendidas por Itália -- como uma linha mais interventiva na imigração, com o anunciado reforço da Frontex, a criação do posto de comissário para o Mediterrâneo, e uma forte aposta na desburocratização -, a "demasiada abertura à esquerda" demonstrada pela líder alemã ditou o voto contra dos Irmãos de Itália.
Questionada em Estrasburgo, depois da votação, sobre o voto contra dos Irmãos de Itália, Von der Leyen manifestou-se convicta de que teve a "abordagem certa", como o demonstrou a votação final.
"Trabalhámos por uma maioria democrática, por um centro pró-UE. E, no final, apoiaram-me. Penso que a nossa abordagem foi a correta", disse.
O Parlamento Europeu aprovou hoje a recondução de Von der Leyen com 401 votos favoráveis, 284 contra, 15 abstenções e sete inválidos.
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