Itália debate consequências do voto de Meloni contra "ex-amiga"

Políticos da oposição e analistas apontam que o voto contra da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni à sua "ex-amiga" pode fragilizar Itália na cena europeia, no dia seguinte à reeleição de Ursula von der Leyen como presidente da Comissão Europeia.

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© Alessandra Benedetti - Corbis/Corbis via Getty Images

Lusa
19/07/2024 12:33 ‧ 19/07/2024 por Lusa

Mundo

Von der Leyen

Na imprensa italiana de hoje, muitos analistas consideram que a delegação dos Irmãos de Itália -- o partido pós-fascista liderado por Meloni -- acabou por votar em bloco contra a recondução de Von der Leyen por questões de política interna.

 

Pretendeu evitar que a Liga de Matteo Salvini, partido radical de direita que também forma parte da coligação governamental, explorasse o que iria classificar como uma "traição" ao eleitorado italiano de direita, mas concordam que tal deverá retirar ao país influência na próxima Comissão.

Para o Corriere della Sera, ao votar contra a recondução da "ex-amiga" Von der Leyen -- que até acabou por garantir a reeleição por uma margem confortável na votação realizada na quinta-feira no Parlamento Europeu -, Itália terá visto esfumar-se a possibilidade de ter uma vice-presidência executiva na próxima Comissão Europeia, "que dá acesso à sala de comandos" de Bruxelas.

"E agora? Irá a Itália acabar à margem da União Europeia, de braço dado com os soberanistas de [Viktor] Orbán, [Marine] Le Pen e Salvini?", questiona o jornal, apontando que a relação entre Meloni e Von der Leyen, muito próxima no último ano e meio, "já não voltará a ser como dantes".

De acordo com o diário La Repubblica, Meloni acabou por votar contra Von der Leyen "após meses de negociações, vários passeios de helicóptero e até viagens a África de braço dado".

A primeira-ministra argumentou que se tratou de um voto coerente -- a líder dos 'Fratelli d'Italia' já havia sido a única chefe de Estado ou de Governo dos 27 a votar contra as escolhas para os cargos de topo da UE, incluindo de António Costa para presidente do Conselho Europeu -, mas para o jornal, este voto é "um auto-golo" e "agora a Itália corre o risco de acabar na Série B", ou seja, na segunda divisão.

A generalidade dos editoriais atribui o voto de Meloni à pressão exercida pelo seu "aliado" Salvini -- mas grande rival, dado os dois partidos de direita radical disputarem sensivelmente o mesmo eleitorado -, com o Corriere della Sera a considerar que o líder da Liga "ganhou este jogo, ao colocar a líder da direita italiana em grandes dificuldades", opinião partilhada pelo diário La Stampa, segundo o qual Salvini "estava apenas à espera do 'sim' de Meloni [a Von der Leyen] para se atirar a ela e acusá-la de estar a 'amolecer'".

"Agora, certamente, Matteo Salvini tem menos uma arma contra a primeira-ministra, que não pode acusar de «traição», mas esta é uma visão míope que corre o risco de isolar a Itália, pelo menos na Europa", comenta o jornal Il Sole 24 Ore, uma ideia bastante difundida também por figuras da oposição, designadamente do Partido Democrático (socialista), que acusam Meloni de "isolar" Itália na cena europeia, ao colocar-se "no canto da direita radical", votando "como Orbán".

Von der Leyen foi eleita na quinta-feira para um novo mandato de cinco anos à frente do executivo comunitário com 401 votos a favor (bem acima dos 360 necessários), graças ao apoio do Partido Popular Europeu (PPE, principal família política, da qual era a candidata cabeça de lista nas europeias), Socialistas Europeus, Liberais e também Verdes.

A dirigente alemã contou, no entanto, com o apoio de um dos três partidos que formam o Governo de coligação de direita e extrema-direita em Itália, o Força Itália (PPE), já que os Irmãos de Itália e a Liga votaram contra.

Leia Também: Von der Leyen? Meloni diz que voto "coerente" não compromete cooperação

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