Protestos estão a deixar Bangladesh num caos. As imagens (e que se passa)

Imagens mostram o caos que se instalou no Bangladesh no âmbito de protestos relacionados com o emprego e função pública.

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Lusa
19/07/2024 12:51 ‧ 19/07/2024 por Lusa

Mundo

Bangladesh

O Bangladesh está a enfrentar um surto de violência que já provocou a morte de pelo menos 50 pessoas em manifestações que exigem o fim do sistema de quotas de emprego na função pública.

 

As razões porque os estudantes estão a protestar em todo o país e como é que as manifestações, que já duram há várias semanas, degeneraram em confrontos violentos têm o seguinte como pano de fundo.

Quais são as regras do Bangladesh em matéria de quotas de emprego?

O Bangladesh tem mais de 1,9 milhões de empregos na função pública, de acordo com um relatório do Ministério da Administração Pública publicado em 2022.

Mais de metade das pessoas recrutadas para estes empregos não são escolhidas com base no mérito, mas sim ao abrigo de regras de discriminação positiva que dão prioridade às mulheres, às pessoas de zonas menos desenvolvidas e a outros grupos desfavorecidos.

Um dos aspetos mais controversos é o facto de 30% dos lugares estarem reservados para os filhos dos combatentes que participaram na guerra de libertação do país contra o Paquistão em 1971.

Estas regras foram introduzidas em 1972 pelo líder independentista Sheikh Mujibur Rahman, pai da atual primeira-ministra Sheikh Hasina.

Em 2018, os protestos estudantis pressionaram o governo de Hasina a reduzir o sistema de quotas. Mas, em junho passado, o Supremo Tribunal do país decidiu que as alterações eram ilegais e ordenou ao governo que restabelecesse a quota para familiares de veteranos de guerra, que tinha sido abolida.

Porque os estudantes se opõem às regras das quotas?

O Bangladesh era um dos países mais pobres do mundo aquando da sua independência em 1971 e sofreu uma fome devastadora três anos mais tarde.

Nas décadas seguintes, a sua economia cresceu de forma espetacular, em grande parte graças a uma indústria têxtil florescente que abastece as maiores marcas de pronto-a-vestir do mundo e é responsável por exportações anuais de cerca de 50.000 milhões de dólares (pouco mais de 45.900 milhões de euros).

Mas o país continua a debater-se com a necessidade de criar empregos suficientes para a sua população em expansão de cerca de 170 milhões de habitantes.

Segundo as estatísticas oficiais de 2022, mais de 40% dos bengalis com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos não trabalham, não estudam nem seguem qualquer formação, ou seja, um total de 18 milhões de pessoas. Segundo os economistas, a crise de emprego é particularmente grave para os milhões de licenciados.

Os empregos na função pública oferecem uma oportunidade de emprego estável para toda a vida, mas os estudantes afirmam que o sistema de quotas está a ser explorado em benefício dos fiéis ao partido da Liga Awami.

Os estudantes querem que o sistema de quotas seja drasticamente reduzido, passando a aplicar-se apenas às minorias étnicas e às pessoas com deficiência, e que os restantes 94% dos lugares sejam atribuídos a candidatos escolhidos com base no mérito.

Como decorreram as manifestações?

Os protestos começaram a 01 deste mês, quando estudantes bloquearam as principais estradas e caminhos-de-ferro para fazer valer as suas reivindicações.

Desde então, os protestos prosseguiram quase todos os dias, com a adesão de estudantes do ensino secundário, embora o Supremo Tribunal tenha suspendido o sistema de quotas por um mês, no passado dia 10, e instado os manifestantes a regressarem às aulas.

Na segunda-feira passada, eclodiram violentos confrontos entre os manifestantes anti-quotas e a ala estudantil da Liga Awami, deixando mais de 400 feridos em duas universidades de Daca.

A violência intensificou-se na quinta-feira: 32 pessoas foram mortas só nesse dia, o mais mortífero até à data, elevando-se hoje para um total de 50 vítimas mortais.

A polícia denunciou a destruição de edifícios governamentais, incluindo a sede da estação pública de televisão em Daca.

Mais de 700 pessoas ficaram feridas na quinta-feira, incluindo 104 agentes da polícia e 30 jornalistas, segundo a estação de televisão local Independent Television.

Os disparos da polícia são responsáveis por pelo menos dois terços das mortes registadas até ao momento, de acordo com informações fornecidas à AFP por pessoal hospitalar.

Como reagiu o Governo?

O Governo ordenou terça-feira o encerramento por tempo indeterminado de escolas e universidades em todo o país, destacando uma força paramilitar para manter a ordem em várias cidades.

A polícia fez uma rusga na sede do Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP) na noite de terça-feira, prendendo sete membros da sua ala estudantil. Alegaram ter encontrado 'cocktails' Molotov e outras armas.

Hoje, anunciou a detenção de Ruhul Kabir Rizvi Ahmed, um dos líderes da principal força da oposição do país, o Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP),

Num discurso proferido quarta-feira, Hasina condenou o "assassínio" dos manifestantes e prometeu que os responsáveis seriam punidos e, um dia depois, o ministro da Justiça, Anisul Huq, apelou ao "diálogo" com os manifestantes.

No mesmo dia, o governo de Hasina bloqueou o acesso à Internet em todo o país e a organização de defesa da rede Netblocks observou hoje que o apagão da Internet "em todo o país" continuava em vigor.

Os manifestantes prometeram continuar as manifestações apesar da repressão, enquanto as organizações de defesa dos direitos humanos e as Nações Unidas instaram o governo a não recorrer à violência.

Leia Também: Número de mortos nos protestos no Bangladesh sobe para 50

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