"Quarenta e cinco minutos de discurso e aplausos não apagarão um facto triste: as palavras 'Acordo agora!' não estiveram presentes no discurso do primeiro-ministro. Nem houve qualquer menção aos 116 reféns que, mais uma vez, não regressarão a casa esta noite", afirmou o grupo em comunicado.
Milhares de israelitas que defendem um acordo de tréguas imediato para libertar os reféns, detidos desde 07 de outubro no seguimento do ataque do Hamas no sul do Israel, acompanharam em direto o discurso de Netanyahu perante as duas câmaras do Congresso norte-americano, em Washington, nos ecrãs da renomeada Praça dos Raptados, em Telavive, esperando ouvir a declaração "há acordo".
"No dia 07 de outubro, [o kibutz] Nir Oz foi invadido por terroristas assassinos. Desde então, Nir Oz e o seu povo foram abandonados a cada minuto. Nesse dia, o nosso querido avô, Alex Dancyg, foi raptado vivo do seu lugar mais seguro: a sua casa, a sua casa. Ele poderia ter voltado vivo com um acordo, poderíamos tê-lo abraçado novamente", disseram as netas Talya, Eliya e Achinoam, citadas pela agência EFE, e cuja morte na Faixa de Gaza foi confirmada esta semana.
Noam Peri, filha de Chaim Peri -- também morto em cativeiro -- lembrou a Netanyahu que é responsável "pela segurança de todos os cidadãos israelitas, presentes e futuros".
"Já não podes salvar o meu pai, mas deves restaurar o contrato entre nós, antes que seja tarde demais. Assinemos o acordo e salvemos os reféns que ainda estão vivos", apelou.
"Que vergonha! Quase uma hora de conversa sem dizer: 'Haverá um acordo'", lamentou por seu lado o líder da oposição, o centrista Yair Lapid, na rede X.
O Presidente israelita, Isaac Herzog, congratulou-se com o facto de Netanyahu ter sido ouvido nos Estados Unidos, mas insistiu que "o regresso imediato e urgente dos reféns deve estar no centro da agenda mundial".
No seu discurso, o primeiro-ministro israelita disse estar "confiante" sobre o resultado das negociações para libertar os reféns detidos pelo Hamas, desde o ataque executado pelo grupo islamita palestiniano no sul de Israel em 07 de outubro que deixou quase 1.200 mortos.
"Estou convencido de que estes esforços podem ser coroados com sucesso", disse Netanyahu, agradecendo ao Presidente norte-americano, Joe Biden, "pelos seus esforços incansáveis" em nome dos reféns.
De resto, o líder israelita descreveu Biden como um "orgulhoso sionista irlandês-americano", elogiando o seu apoio logo após o ataque do Hamas: "Veio a Israel para estar connosco no nosso pior momento".
O primeiro-ministro israelita disse que Israel enfrenta uma guerra entre aqueles que "glorificam a morte e santificam a vida", ao mesmo tempo que enquadrou a luta contra o Hamas como um conflito mais vasto em todo o Médio Oriente.
Na sua visão para o território, afirmou que "a desmilitarização e desradicalização de Gaza" podem conduzir "a um futuro de segurança, prosperidade e paz", e pediu aos Estados Unidos mais armas para "acelerar o fim da guerra" no enclave, além de unidade face ao "eixo de terror" alegadamente patrocinado pelo Irão.
O primeiro-ministro israelita não fez qualquer referência à formação de um governo único para a Faixa de Gaza e para a Cisjordânia, ou à criação de um Estado palestiniano independente, que são os planos oficiais dos Estados Unidos.
Netanyahu foi convidado para o seu quarto discurso perante o Congresso dos Estados Unidos numa demonstração de apoio face às tensões entre a administração de Joe Biden e o Governo israelita devido à forma como está a levar a cabo a ofensiva na Faixa de Gaza.
O discurso de Netanyahu foi também assinalado por fortes protestos de milhares de manifestantes junto do edifício do Capitólio contra a invasão da Faixa de Gaza por Israel em perseguição do Hamas e que já provocou nos últimos nove meses cerca de 40 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais.
De acordo com a agência Associated Press (AP) e a cadeia televisiva CNN, dezenas de congressistas, sobretudo democratas, faltaram ao discurso do chefe do Governo israelita, enquanto outros aplaudiram-no efusivamente e outros ainda usaram 't-shirts' a exigir um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
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