Os rohingyas são a minoria muçulmana que Myanmar (antiga Birmânia) não reconhece como cidadãos.
A MSF, uma organização não-governamental, avançou, em comunicado que este facto "mostra o agravamento da crise humanitária no estado de Rakhine", no oeste da Birmânia, onde vive esta minoria, que em agosto de 2017 foi vítima de perseguição por parte do exército birmanês, situação que a Organização das Nações Unidas (ONU) está a investigar por constituir um possível genocídio.
"Nos quatro dias anteriores a 07 de agosto, as equipas de MSF em Cox's Bazar, no Bangladesh, trataram 39 pessoas com ferimentos relacionados com a violência.
Os campos de Cox's Bazar, no Bangladesh, acolhem mais de um milhão de refugiados rohingya que fugiram de Myanmar, principalmente após a onda de violência em 2017", descreveu a organização.
Orla Murphy, representante de MSF em Bangladesh, disse estar "cada vez mais preocupada com o impacto do conflito na população rohingya".
"É claro que o espaço seguro para os rohingya está a diminuir" em Mianmar, acrescentou.
A Birmânia está mergulhada no caos desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, liderado pelo mesmo general, Min Aung Hlaing, que orquestrou a campanha de perseguição aos rohingya em 2017, e nos últimos meses a guerra de guerrilha que se prolonga há décadas, o país piorou em diversas áreas, incluindo Rakhine.
Segundo pacientes dos MSF, a situação naquele estado seria insustentável.
Alguns, segundo o comunicado, "relataram ter visto pessoas vítimas de bombardeamentos enquanto tentavam encontrar barcos para cruzar o rio [para o] Bangladesh".
"Outros descreveram centenas de corpos nas margens do rio", lê-se no comunicado.
Além dos refugiados rohingya, o Bangladesh recebeu nos últimos meses centenas de soldados birmaneses que fogem devido ao avanço dos grupos rebeldes, mas que são devolvidos dentro de dias ou semanas pelas autoridades do Bangladesh.
Os Médicos Sem Fronteiras anunciaram, em junho, que iriam cessar as suas atividades no norte do estado de Rakhine devido à escalada do conflito entre as forças da junta militar e a guerrilha étnica Exército Arakan.
A pressão contra o exército birmanês aumentou após o lançamento no nordeste do país de uma operação, em outubro passado, por uma aliança de guerrilheiros que posteriormente se espalhou por mais partes do país.
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