O ataque de quinta-feira à noite em Jit, no norte da Cisjordânia, deixou uma pessoa "morta por balas de colonos" e outra gravemente ferida, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros da ANP, segundo a agência francesa AFP.
"Como é que estes bandos terroristas mobilizariam 100 dos seus membros armados com armas de Ben Gvir [ministro da Segurança Nacional] e atacariam uma aldeia palestiniana se não se sentissem protegidos e apoiados politicamente, legalmente e em termos de segurança?", questionou, citado pela agência espanhola EFE.
Cerca de 100 colonos encapuzados invadiram a aldeia, a leste da cidade de Qalqilya, onde incendiaram vários veículos e abriram fogo contra a população, culminando com a morte de um jovem de 23 anos.
Os Estados Unidos consideraram inaceitável a violência em Jit, que também foi condenada por vários políticos israelitas.
Uma pessoa foi detida por envolvimento nos motins, segundo o jornal The Times of Israel.
O ataque, segundo o ministério da ANP, faz parte da "perigosa escalada" de crimes contra cidadãos palestinianos na Cisjordânia, que está sob ocupação do exército israelita.
Os militares apenas intervêm "para reprimir os cidadãos quando estes se levantam para se defender", acrescentou.
Na última semana, a ONU documentou 25 ataques de colonos, dos quais resultaram seis feridos palestinianos, incluindo duas crianças.
Desde o início da guerra em Gaza, em 07 de outubro de 2023, a ONU registou cerca de 1.250 ataques de colonos contra palestinianos, 120 dos quais causaram mais de uma dezena de mortos.
A ANP colocou a tónica no ministro Itamar Ben Gvir, de extrema-direita, que é um colono e um ponto de referência para o movimento, bem como um defensor do regresso dos colonatos israelitas a Gaza.
"Quem tem de lidar com o terrorismo e a dissuasão, incluindo contra os terroristas da aldeia de Jit, é o exército israelita", comentou Ben Gvir sobre o ataque.
Ben Gvir culpou o ministro da Defesa, Yoav Gallant, a quem critica regularmente em questões de segurança, e disse que era altura de ele "sair da armadilha" e agir.
Gallant afirmou em comunicado que os agressores "atacaram pessoas inocentes" e "não representam os valores das comunidades que vivem na Samaria", referindo-se aos colonatos da Cisjordânia pelo nome bíblico.
O Tribunal Internacional de Justiça decidiu, em 19 de julho, que todos os colonatos são ilegais e exigiu que Israel retirasse todos os colonos do território.
A diplomacia palestiniana apelou para uma maior pressão internacional contra a ocupação israelita da Cisjordânia, incluindo a eliminação das fontes de financiamento e da proteção política e jurídica dos colonos.
O grupo extremista Hamas, com o qual Israel está a lutar na Faixa de Gaza, enquadrou o que aconteceu como parte dos crimes da ocupação na Cisjordânia.
O Hamas apelou aos palestinianos do enclave para que se insurgissem contra os colonos e "enfrentassem os ataques com todos os meios possíveis".
Mais de 700.000 colonos vivem na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental.
O Governo israelita, em que os colonos de extrema-direita detêm um poder alargado, autorizou este ano numerosos planos de expansão dos colonatos, a legalização de postos avançados e a confiscação de terras a palestinianos.
A Cisjordânia ocupada está a viver a maior espiral de violência desde a Segunda Intifada (2000-2005).
Desde o início do ano, pelo menos 290 palestinianos foram mortos por fogo israelita, na maioria membros de milícias, mas também civis, incluindo cerca de 70 menores, de acordo com a EFE.
O ano de 2023 foi o mais mortífero das últimas duas décadas, com mais de 520 mortos.
Do lado israelita, 21 pessoas foram mortas este ano: 11 militares e 10 civis, cinco dos quais colonos.
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