Fuga de Espanha? "Não foi necessário esconder-me na bagageira do carro"

O ex-presidente do governo da Catalunha adiantou que não regressou para ser preso, mas sim para "exercer o direito de resistir à opressão".

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© Joan Valls/Urbanandsport /NurPhoto via Getty Images

Notícias ao Minuto
18/08/2024 23:36 ‧ 18/08/2024 por Notícias ao Minuto

Mundo

Carles Puigdemont

Carles Puigdemont, antigo presidente do governo regional da Catalunha, explicou como conseguiu entrar em Espanha, discursar perante uma multidão no centro de Barcelona, e fugir sem ser detido pela polícia, apesar de pender sobre si um mandado de detenção em território espanhol.

 

Num artigo de opinião, publicado na sexta-feira no jornal Politico, Puigdemont afirmou que o seu regresso, no passado dia 8 de agosto, "causou uma grande tensão" porque o Supremo Tribunal de Espanha decidiu "manter alguns dos mandados de captura contra os organizadores do referendo independentista de 1 de outubro de 2017", apesar de o parlamento espanhol ter aprovado uma Lei de Amnistia, que "ordenava o levantamento de todas as medidas" que impediam os independentistas de "exercer os direitos políticos".

"Não fui condenado, nem sequer julgado. Fui eleito deputado do parlamento da Catalunha e faço parte dos perseguidos políticos e ativistas a quem esta Lei de Amnistia se deveria aplicar. Mas o Supremo Tribunal decidiu rebelar-se contra uma lei que não lhe agrada, desobedecendo a um parlamento democrático", acusou.

Considerando estar em causa um "golpe híbrido", no qual "certos juízes subvertem a vontade do povo e anulam a legislação aprovada por um governo democrático sob o pretexto do Estado de direito", Puigdemont disse que é "absurdo em qualquer parte da Europa" que uma "Lei de Amnistia não possa conceder amnistia", mas é "exatamente isso que está a acontecer em Espanha"

Apesar do mandado de detenção, o ex-líder catalão "tinha prometido regressar a casa para assistir ao debate de investidura do novo presidente do Governo da Catalunha", uma vez que era seu "dever". "Mas os politizados juízes espanhóis ordenaram à polícia catalã que aproveitasse a ocasião para me prender", afirmou.

Puigdemont disse estar ciente de que "o risco de ser enviado para uma prisão espanhola durante anos era extremamente elevado", mas decidiu regressar na mesma e anunciar "onde, quando e a que horas iria aparecer perante milhares de pessoas".

Assim, regressou a Espanha a 6 de agosto e conseguiu ir até Barcelona sem ser descoberto. "Dois dias depois, consegui atravessar algumas ruas e chegar ao palco sem ser detido. E pude falar com a cara descoberta, a poucos metros da sede do Supremo Tribunal de Justiça da Catalunha e do próprio parlamento, perante uma multidão", recordou.

Disse que o seu objetivo era mesmo ir até ao parlamento, "mas a polícia tinha isolado a zona toda, o que tornava impossível".

"Se tivesse tentado, teria sido o mesmo que render-me às autoridades judiciais - que, na minha opinião, não têm autoridade legal para me perseguir, uma vez que violam as normas internacionais, bem como a legislação aprovada pelo parlamento espanhol", explicou o eurodeputado, sublinhando que não regressou para ser preso, mas sim para "exercer o direito de resistir à opressão".

"Assim, para permanecer livre, tive de ativar o plano alternativo que tinha preparado - nomeadamente, falar no evento, escapar à detenção ilegal e sair de Espanha", acrescentou. "Não foi fácil. A polícia provocou o caos em toda a Catalunha ao tentar prender-me - um deputado, um político cujo 'crime' foi organizar um referendo; não um terrorista ou um traficante de armas, não um assassino ou um violador".

Segundo o político, a "última vez que uma operação tão maciça foi orquestrada na Catalunha" foi há sete anos, em 2017, durante a sua presidência, na sequência dos "terríveis ataques jihadistas em Barcelona e Cambrils".

"Mas, finalmente, a minha exfiltração foi bem sucedida. Não foi necessário esconder-me na bagageira de um carro - como afirmam que fiz. Sentei-me no banco de trás de um veículo privado e fui conduzido através da fronteira entre o sul da Catalunha e o norte da Catalunha, que é administrativamente território francês", recordou.

No artigo de opinião, Puigdemont disse ainda que esperar que "um dia a justiça regresse aos tribunais espanhóis e que os juízes respeitem uma lei aprovada pelo parlamento" para que possa "regressar definitivamente a casa".

Eleito deputado nas eleições catalãs de 12 de maio, Puigdemont tinha anunciado que estaria na sessão parlamentar de 8 de agosto, convocada para investir o socialista Salvador Illa novo presidente do governo catalão.

A polícia tinha montado um perímetro de segurança em redor do parlamento, com uma barreira policial que Puigdemont teria de cruzar para aceder ao edifício, mas nunca chegou a esse local, onde se esperava que fosse detido.

Os Mossos d'Esquadra acionaram depois a 'operação Jaula', um dispositivo de segurança, com controlo de estradas, para tentar localizá-lo, mas sem sucesso.

Leia Também: Illa promete afastar polícia da Catalunha dos confrontos políticos

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