A Venezuela "rejeita com a maior veemência o comunicado grosseiro e insolente" dos 11 países, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Yván Gil, num discurso transmitido pela televisão, referindo "um ato de ingerência inaceitável nos assuntos que apenas dizem respeito aos venezuelanos".
"A Venezuela exige o respeito absoluto da sua soberania. Hoje, eles (esses países) tentam mais uma vez impor uma política de mudança de regime típica dos golpes de Estado que o império norte-americano encorajou durante mais de 100 anos na América Latina e nas Caraíbas", sustentou Yván Gil no discurso televisivo.
Na quinta-feira, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela, controlado pelos chavistas, declarou Nicolás Maduro vencedor das eleições presidenciais de 28 de julho -- uma validação de vitória rejeitada por numerosos países que pedem às autoridades venezuelanas que divulguem os resultados eleitorais pormenorizados.
O anúncio da reeleição do Presidente socialista no escrutínio de julho desencadeou manifestações espontâneas, que foram violentamente reprimidas. Os protestos causaram pelo menos 27 mortos e 192 feridos e 2.400 pessoas foram detidas, segundo fontes oficiais.
Nicolás Maduro foi declarado vencedor com 52% dos votos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que, no entanto, não tornou públicas as atas das assembleias de voto, alegando ter sido vítima de um ataque informático.
Tal ataque foi considerado pouco credível pela oposição e por muitos observadores que nele veem uma manobra do poder para evitar ter de divulgar os números exatos.
Segundo a oposição, que tornou públicas as atas obtidas pelos seus escrutinadores, o seu candidato, Edmundo González Urrutia, venceu as eleições com mais de 60% dos votos.
Sem as mostrar, o TSJ garantiu que tinha verificado as atas apresentadas pelo Governo, bem como que o ataque informático ao CNE realmente ocorreu, embora a vitória de Maduro tenha sido, segundo a maior parte da comunidade internacional, anunciada "com base numa ata de resultados parcial, emitida de forma oral, com números que evidenciavam impossibilidades matemáticas e sem apresentar os resultados em separado".
"Os nossos países já tinham manifestado a sua desaprovação quanto à validade da declaração do CNE, depois de ter sido negado aos representantes da oposição o acesso à contagem oficial", sublinharam os dez países latino-americanos e os Estados Unidos no comunicado conjunto.
O alto representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Josep Borrell, declarou hoje que a UE não reconhecerá Nicolás Maduro como Presidente da Venezuela até que as atas eleitorais sejam verificadas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou hoje a Venezuela a "total transparência" nos resultados das eleições presidenciais de 28 de julho e lembrou que o CNE ainda não publicou as atas eleitorais do escrutínio, como reivindica a oposição e a maioria da comunidade internacional.
Entretanto, o Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, voltou a escusar-se hoje a reconhecer a reeleição de Maduro, insistindo que as atas eleitorais devem ser divulgadas.
Em Caracas, o Governo agradeceu hoje aos Presidentes de Cuba e Nicarágua, respetivamente Miguel Díaz-Canel e Daniel Ortega, pelo reconhecimento da vitória de Nicolás Maduro.
O Presidente cubano questionou, na rede social X, "quando os ingerentes se desculparão" perante Maduro, referindo-se aos Governos que se recusam a reconhecer a reeleição do líder chavista até que o CNE apresente os resultados do escrutínio desagregados, algo que deveria ter sido feito a 02 de agosto, de acordo com o calendário eleitoral.
No plano judicial, o Procurador-Geral da República venezuelano anunciou que vai convocar "nas próximas horas" Edmundo González Urrutia, o candidato presidencial da maior coligação da oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD).
"Ele deve comparecer, em cumprimento desta convocatória, para falar (...) sobre a sua responsabilidade antes de 28 de julho, durante 28 de julho e depois de 28 de julho pela sua desobediência às autoridades legitimamente constituídas", declarou o procurador-geral, Tarek William Saab, que acusa sobretudo a oposição de ter cometido atos de violência após as eleições.
González Urrutia e a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, têm vivido na semi-clandestinidade desde as eleições, e González Urrutia não é visto em público há quase três semanas.
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