"Nas igrejas não se toca", declarou Francisco no final da oração do Angelus, na praça de São Pedro, no Vaticano.
"Ao pensar nas leis recentemente adotadas na Ucrânia, temo pela liberdade daqueles que rezam", disse Francisco, um dia depois de o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter promulgado uma lei que proíbe a Igreja Ortodoxa ligada a Moscovo.
"Quem ora verdadeiramente, ora sempre por todos. Nenhum mal se comete ao orar e se alguém cometer o mal contra o seu povo, será culpado disso, mas não pode ter cometido o mal ao orar", declarou o Papa.
"Portanto, que seja permitido às pessoas rezarem naquela que consideram a sua igreja. Por favor, não permitam que alguma igreja cristã seja proibida direta ou indiretamente", acrescentou.
Volodymyr Zelensky promulgou no sábado a lei que proíbe a Igreja Ortodoxa ligada ao Patriarcado de Moscovo, que é acusada de ser influenciada pelo Kremlin.
A nova lei, denunciada pela Rússia como uma "perseguição", foi promulgada no Dia da Independência da Ucrânia da União Soviética e dois anos e meio depois de a Rússia ter iniciado a invasão em território ucraniano.
Na terça-feira, o Parlamento ucraniano adotou o projeto de lei que prevê a proibição da Igreja Ortodoxa ligada ao Patriarcado de Moscovo.
Nesse dia, o Patriarcado de Moscovo condenou a "proibição ilegal" na Ucrânia do ramo da Igreja Ortodoxa russa.
Num discurso à nação na noite de quarta-feira, Zelensky disse que esta medida iria fortalecer a independência do país.
"Os ortodoxos ucranianos estão a dar um passo para se libertarem dos demónios de Moscovo", afirmou.
A Igreja visada por esta decisão foi em tempos a mais popular na Ucrânia, um país com uma grande maioria ortodoxa, mas que perdeu muitos seguidores nos últimos anos à medida que o sentimento nacional ucraniano ganhou popularidade face à Rússia.
Esse processo acelerou-se com a criação, em 2018, de uma Igreja Ortodoxa ucraniana independente de Moscovo [autorizada pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I], e, ainda mais, após o início, em fevereiro de 2022, da invasão russa da Ucrânia, abertamente apoiada pelo Patriarcado de Moscovo.
De acordo com meios de comunicação social ucranianos, a Igreja com ligações à Rússia ainda tem cerca de 9.000 paróquias na Ucrânia, em comparação com 8.000 a 9.000 paróquias da sua rival independente.
A Igreja Ortodoxa alvo desta proibição anunciou em maio de 2022 que estava a cortar todos os laços com o Patriarcado de Moscovo e acusou as autoridades ucranianas de perseguição.
Contudo, o Governo ucraniano acredita que a instituição continua dependente da Rússia e vários dos seus dignitários estão a ser alvo de investigações criminais.
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