"Em vez de reconhecer a derrota eleitoral e preparar uma transição política na Venezuela, [Nicolás] Maduro ordenou agora a detenção do líder democrático que venceu esmagadoramente nas urnas", lamentou nas redes sociais o responsável pelos Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, Brian A. Nichols.
Nichols sublinhou que Urrutia "promoveu a reconciliação nacional", razão pela qual Washington se junta à "lista crescente de parceiros internacionais" que condenaram o mandado de captura.
O porta-voz da segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, avançou, por seu lado, que os EUA estão a considerar que ações tomar contra o governo de Maduro.
"Em coordenação com os nossos parceiros, estamos a considerar uma diversidade de opções para demonstrar ao Sr. Maduro e aos seus representantes que as suas ações na Venezuela terão consequências", afirmou aos jornalistas, um dia depois de a justiça venezuelana ter emitido um mandado de captura contra o candidato da oposição às eleições presidenciais.
Rather than recognizing his election loss and preparing for a peaceful transition in Venezuela, Maduro has now ordered the arrest of the democratic leader who defeated him overwhelmingly at the polls. Edmundo Gonzalez has promoted national reconciliation, and we join the growing…
— Brian A. Nichols (@WHAAsstSecty) September 3, 2024
O paradeiro de Urrutia é desconhecido.
O Ministério Público venezuelano, controlado pelo chavismo, acusou González de uma série de crimes relacionados com a divulgação na Internet de documentos que provariam a derrota eleitoral de Maduro na ida às urnas de julho.
O Ministério Público já havia alertado que, se o líder da oposição não comparecesse na sexta-feira para a terceira convocatória, iria ordenar a sua prisão.
Portugal, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, caracterizou como "muito preocupante" a ordem de detenção emitida, já que "atenta contra os direitos fundamentais e representa um sério revés na procura de uma solução democrática, pacífica e duradoura, que permita a normalização da vida política venezuelana".
Nove países da América Latina também criticaram hoje a ordem de detenção, referindo estar em curso uma "perseguição política".
"Este mandado de detenção cita vários alegados crimes que não são mais do que mais uma tentativa de silenciar o senhor González [e] ignorar a vontade popular venezuelana", indica um comunicado emitido pelos nove países.
O texto é subscrito por Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.
Também a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que reina na Venezuela um clima de medo, uma vez que há detenções por as pessoas expressarem ideias ou por quererem participar na vida política.
"O que estamos a ver na Venezuela é uma situação muito lamentável, na qual as pessoas estão a ser detidas por exercerem o seu direito à participação política, à liberdade de expressão ou à liberdade de reunião", afirmou a porta-voz Ravina Shamdasani, do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, quando questionada sobre o mandado de prisão contra o líder da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia.
Também a Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou hoje o mandado de captura emitido na Venezuela para o opositor Edmundo González Urrutia, sublinhando que a perseguição política "constitui mais um crime na permanente e contínua lógica jurídica de violação sistemática dos direitos humanos no país".
"Mais uma vez, o poder judicial na Venezuela perpetra atos que o apontam como instrumento fundamental na execução de crimes contra a humanidade no país", afirmou o secretário-geral da organização, o uruguaio Luis Almagro, num comunicado.
Para o representante máximo da OEA, o poder judicial venezuelano não é "um órgão que administra justiça, mas repressão e violação das liberdades fundamentais, e que se afirma como principal agente da impunidade quanto a violações dos direitos humanos".
A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Maduro com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.
A oposição venezuelana e diversos países da comunidade internacional denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE diz ser inviável devido a um "ciberataque" de que alegadamente foi alvo.
Os resultados eleitorais têm sido contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo de cerca de duas mil detenções e de mais de duas dezenas de vítimas mortais.
[Notícia atualizada às 18h55]
Leia Também: Quase 1,6 milhões de venezuelanos receberam ajuda humanitária da ONU