Dominique Pelicot, o homem que durante dez anos drogou a mulher para ser violada por dezenas de homens, em França, falou pela primeira vez em tribunal e admitiu os crimes de que é acusado, reconhecendo ser um "violador".
"Não a culpo de nada, fui muito feliz com ela, ela era o oposto da minha mãe", disse, entre lágrimas, referindo-se à vítima, Gisèle Pelicot.
"Nunca toquei nos meus filhos ou netos. Sou um violador como as pessoas que estão nesta sala. Eles sabiam de tudo. Não podem dizer o contrário. Ela não merecia isto, admito-o", acrescentou, citado pelo jornal francês Le Figaro.
No início da audiência, Dominique Pelicot indicou que foi vítima de duas violações sexuais durante a sua juventude, afirmando que teve "sempre estes traumas".
"Não se nasce assim, tornamo-nos assim", afirmou com a voz trémula.
O julgamento tinha sido suspenso devido a problemas de saúde de Dominique Pelicot e, na segunda-feira, o tribunal decidiu constituir uma equipa médica que informasse sobre o "real estado de saúde" do principal acusado, ausente por doença.
Na audiência desta manhã, o presidente do Tribunal Penal de Vaucluse, Avignon, Roger Arata, começou por ler o relatório médico que confirmou que o acusado, de 71 anos, sofre de "pedras nos rins", infeção urinária" e "um possível problema de próstata". No entanto, "está apto a comparecer física e mentalmente".
Dominique Pelicot está a ser julgado por ter drogado a mulher com ansiolíticos durante dez anos, desde julho de 2011 a outubro de 2020, antes de a violar e por, simultaneamente, ter recrutado dezenas de homens na internet para fazerem o mesmo.
Além dele, 50 homens, com idades entre os 26 e os 74 anos, estão a ser julgados, na maioria acusados de violação agravada, o que pode levar a uma pena de prisão de até 20 anos.
Dezoito dos acusados, entre os quais Dominique Pelicot, encontram-se em prisão preventiva. Outros 32 homens continuam em liberdade, enquanto um está dado como fugitivo e será julgado à revelia.
Os abusos foram descobertos em setembro de 2020 quando Dominique Pelicot foi detido pelos seguranças de um supermercado depois de três mulheres o terem denunciado à polícia por ter tentado filmar por debaixo das suas saias.
Quando a polícia analisava o material informático apreendido ao suspeito encontrou milhares de fotografias e vídeos onde aparecia uma mulher inconsciente a ser submetida a vários tipos de abusos.
Gisèle Pelicot, de 71 anos, quis um julgamento de portas abertas e rapidamente foi transformada num símbolo da luta contra a violência sexual. Estima-se que o julgamento do caso Pelicot, que começou a 2 de setembro, venha a durar meses.
[Notícia atualizada às 09h40]
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