Cúmplice do marido? Gisèle Pelicot sente-se "humilhada" com suspeitas

A vítima do processo de dezenas de violações em França, Gisèle Pelicot, repudiou hoje as suspeitas que alguns advogados dos arguidos lançaram sobre a sua possível cumplicidade nas violações que sofreu entre 2011 e 2020.

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© Getty Images/CHRISTOPHE SIMON/AFP

Lusa
18/09/2024 14:39 ‧ 18/09/2024 por Lusa

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França

"Desde que cheguei a esta sala de audiência, sinto-me humilhada. Chamaram-me alcoólica, [disseram] que estou num estado de embriaguez tal que sou cúmplice do senhor Pelicot", disse Gisèle ao Tribunal Penal de Vaucluse, em Avignon (sul de França).

 

Segundo Gisèle Pelicot, ouvir tais declarações "é muito humilhante e degradante".

Os vídeos gravados pelo seu ex-marido, Dominique Pelicot, que mostram as violações de que foi alvo por ele e por mais de cinquenta homens, serão exibidos hoje na sala de audiências, de acordo com Gisèle, que pediu para que os seus filhos não estivessem presentes no momento nem que fossem exibidos na sala de transmissão.

"No estado em que me encontrava, não podia responder a absolutamente ninguém. Estava num estado de coma e os vídeos que serão mostrados atestam-no. E os peritos ficaram chocados com esses vídeos, e são homens", indicou.

Gisèle Pelicot, de 72 anos, afirmou ainda que "nem por um segundo" deu o seu consentimento a Dominique Pelicot ou aos 50 acusados, tendo sido alegadamente vítima de cerca de 200 violações, incluindo 92 cometidas pelos co-arguidos em julgamento desde 02 de setembro.

"Tenho a impressão de que sou a culpada e que atrás de mim os 50 são as vítimas. Porque fiz naturismo sou exibicionista? Eu sou a culpada e eles são as vítimas. De facto, eles deviam estar sentados na minha cadeira...", ironizou Gisèle Pelicot.

Além disso, a septuagenária afirmou estar chocada com a defesa dos arguidos que questionam o tempo que duraram as violações.

"A violação é uma questão de tempo? Três minutos, uma hora? Estou chocada! Se fosse a mãe ou a irmã delas que estivesse aqui, teriam a mesma defesa?", afirmou, acrescentando que a violaram "não importa por quanto tempo" e que isso "é desprezível".

Gisèle Pelicot relembrou o tribunal "que estava sob efeito de substâncias químicas" e que os "50 (arguidos) não se interrogaram (sobre o consentimento)? O que são estes homens, degenerados ou algo do género? Nem por um momento se questionaram".

"Não existe 'violação e violação'. Uma violação é uma violação", afirmou Pelicot, referindo-se aos comentários do advogado de defesa, Paul-Roger Gontard.

O advogado de defesa considerou que existe "violação e 'violação'", parecendo minimizar a verdadeira intenção de alguns dos arguidos, muitos dos quais afirmam que pensavam estar a participar num jogo sexual de um casal liberal.

"Expliquei que houve violação no seu sentido mediático e jurídico. Peço desculpa se o que disse vos ofendeu ou chocou. Não era essa a minha intenção. A minha intenção era recordar-vos as regras do direito", respondeu Paul-Roger Gontard.

O julgamento deste caso deverá prolongar-se até 20 de dezembro e os acusados podem enfrentar penas de 20 anos de prisão por violação agravada.

[Notícia atualizada às 15h07]

Leia Também: "Sou um violador. Ela não merecia". Pelicot admite crimes contra a mulher

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