Premiada com o Nobel da Literatura de 2024 pela sua "intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana", Han Kang nasceu em Gwangju, em 1970, filha do escritor Han Seung-won, e mudou-se para Seul com a família quando tinha 10 anos.
Desde os 14 anos que sabia querer ser escritora, embora tenha começado a escrever e evoluído como autora sem ter a certeza se iria "sobreviver" enquanto tal, como disse numa entrevista ao 'site' do Prémio Booker publicada em 2023.
Formada em Literatura Coreana pela Universidade de Yonsei, estreou-se como autora publicada em 1993, ao assinar cinco poemas numa edição da revista local Literatura e Sociedade, tendo vencido um concurso literário no ano seguinte com o conto "Red Anchor".
Apesar de ter lançado dois romances e uma coleção de contos antes, foi com "A Vegetariana" (o primeiro livro seu que foi traduzido para inglês e a estreia em Portugal também, em 2016, pela Dom Quixote) que ganhou protagonismo internacional.
Como se pode ler na sinopse da obra editada em Portugal, o livro conta a história de uma mulher "absolutamente normal" que tem um "sonho terrível" e decide tornar-se vegetariana.
"Essa sua renúncia à carne -- que, a princípio, ninguém aceitou ou compreendeu -- acabou por desencadear reações extremadas da sua família. Tão extremadas que mudaram radicalmente a vida a vários dos seus membros -- o marido, o cunhado, a irmã e, claro, ela própria. A violência do sonho aliada à violência do real só tornou as coisas piores; e então, além de querer ser vegetariana, ela quis ser puramente vegetal e transformar-se numa árvore. Talvez uma árvore sofra menos do que um ser humano", acrescenta a sinopse.
Escrito entre 2003 e 2005, lançado na Coreia do Sul em 2007 e traduzido para inglês em 2015, o livro conquistou o Booker Internacional num ano em que foram finalistas nomes como Elena Ferrante, José Eduardo Agualusa e Orhan Pamuk.
"Os três anos que passei a escrever 'A Vegetariana' foram um tempo difícil para mim, e nunca imaginei que um dia fosse encontrar tantos leitores. Na altura, não estava certa de que conseguiria terminar o romance ou que sobreviveria como escritora. Estava a sofrer de uma artrite severa nos meus dedos, então escrevi as primeiras duas partes a um passo tranquilo, usando uma caneta de feltro que deslizava suavemente pelo papel, e depois escrevi a última parte segurando duas esferográficas ao contrário. Até hoje sinto-me desconfortável quando oiço falar do 'sucesso' do livro", disse Han Kang, na mesma entrevista ao 'site' do Booker.
Ao Guardian, um ano depois de vencer o Booker Internacional, Kang mostrou-se grata pelo facto de o prémio a ter ajudado a encontrar mais leitores, mas ressalvou: "Quis recuperar a minha vida privada ao fim de alguns meses, porque muita atenção nem sempre é boa para um escritor. É impossível querer saber da atenção e escrever à mesma".
O livro "Atos Humanos", publicado em 2017 em Portugal também pela Dom Quixote, sobre a revolta democrática de Gwangju em 1980 esmagada pelo governo autoritário de Chun Doo-Hwan que levou à morte de centenas ou milhares de pessoas, é uma obra que Kang considera retratar melhor a sua visão da literatura, segundo declarações que fez à agência de notícias do seu país em 2016.
Num texto sobre o livro "Lições de Grego" (publicado pela Dom Quixote em 2023) na London Review of Books, a poeta norte-americana Ange Mlinko lembrava que o escritor Cormac McCarthy considerava que os "bons" escritores "lidavam com assunto de vida e de morte", excluindo assim nomes como Henry James e Marcel Proust: "Por este padrão, Han tem de ser uma das boas, embora seja difícil imaginar fãs de McCarthy a aproximarem-se dela. Também ela está preocupada com a brutalidade do mundo natural e do Estado. Mas não há sede de sangue [no seu trabalho], não há ostentação, não há ironia".
Han Kang tornou-se hoje na 18.ª mulher a conquistar o Prémio Nobel da Literatura. Antes, já tinha sido a vencedora de prémios como o Médicis e o Émile Guimet, em França, e o Malaparte, em Itália, entre muitos outros.
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