Em entrevista à agência Lusa, Levy, 41 anos, diretor numa multinacional em Telavive e membro do Fórum das Famílias dos Reféns, frisou que o "drama" é transversal aos membros do grupo que integra e lembrou as circunstâncias do rapto do irmão mais novo, em que os sequestradores do movimento islâmico entraram na respetiva residência e mataram a mulher.
"O meu irmão mais novo foi feito refém depois de ter visto a mulher a ser assassinada em frente dele. Têm um filho de três anos [vive agora com os avós]. Infelizmente, a única informação que tenho é a de que foi levado vivo e sem ferimentos, com o exército a ter a perceção de que o meu irmão ainda está vivo", afirmou Levy.
As palavras saem-lhe com muitas pausas, emotivas, mas, paralelamente, com alguma raiva, quando refere que não há palavras para descrever o que tem sido o último ano.
"Não há palavras para descrever o que tem sido este último ano, é um pesadelo.
Tem de se passar por tantas coisas inesperadas e para as quais não estava preparado.
E é assim que temos de viver até que eles possam regressar", desabafa.
A "eles" Levy refere-se aos restantes reféns ainda em poder do Hamas -- o número varia, pois não há certezas --, com cujas famílias tem partilhado a dor, sobretudo quando está por se percecionar se ainda estão vivos.
Depois de um ano de cativeiro na Faixa de Gaza, o destino dos 63 presumíveis reféns israelitas vivos, a principal moeda de troca do Hamas para um cessar-fogo e a libertação de prisioneiros palestinianos, ainda é incerto.
A 07 de outubro de 2023, durante o ataque sem precedentes do Hamas ao sul de Israel, os comandos do movimento islâmico palestiniano levaram 251 pessoas e restos mortais de outros reféns para Gaza.
Deste total, 117 pessoas, na sua maioria mulheres, crianças e trabalhadores estrangeiros, recuperaram a liberdade, durante a única trégua do conflito, que durou uma semana no final de novembro de 2023.
A 07 deste mês, no primeiro aniversário do ataque do Hamas e do início da guerra no território palestiniano, 97 pessoas ainda se encontravam em cativeiro, incluindo 63 que se presume estarem vivas, 34 declaradas mortas pelo exército israelita ou pelo Fórum das Famílias dos Reféns.
Questionado pela Lusa sobre o que deve fazer o Governo de extrema-direita do primeiro-ministro Benjamim Netanyahu, que prometeu aniquilar o Hamas até ao último homem, Levy é mais conciliador e defendeu a ideia de que só há um "simples caminho".
"Para que possa regressar há apenas um simples caminho: tem de se assinar um acordo e a única forma de se assinar esse acordo é a comunidade internacional impor uma maior pressão ao Hamas, ao Qatar, ao Egito e ao Irão, que financia e apoia o Hamas. Se isto não acontecer, o sofrimento vai continuar para os dois lados", explicou.
"É óbvio que desejo um cessar-fogo, mas, para tal, os reféns têm primeiro de regressar. É muito simples. Se os reféns forem libertados, haverá um cessar-fogo e poderemos começar a tentar viver em paz, tanto israelitas como palestinianos", acrescentou.
Responsabilizando o Irão por tudo o que está a acontecer no Médio Oriente, Levy considerou que, para se conseguir a paz, a comunidade internacional tem de parar as pretensões hegemónicas e desestabilizadoras de Teerão.
"O Irão financia o terrorismo em todo o mundo e têm feito isso mesmo com o Hamas, com o Hezbollah e com os Huthis, bem como ainda no Iraque. O mundo devia pará-lo, porque desta vez é contra Israel e, mais tarde, acontecerá noutro qualquer país, em Portugal, nos Estados Unidos, no Reino Unido ou na Alemanha", alertou.
"Se o mundo não puser um fim nisso, os iranianos irão continuar a fazer o mesmo outra e outra vez. Só que, na próxima, não será em Israel", concluiu.
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