"Queremos que Portugal lidere o reconhecimento do triunfo do povo venezuelano no dia 28 de julho em toda a Europa, que deve dar um passo mais firme no reconhecimento de Edmundo González [Urrutia] como Presidente legítimo e da liderança de María Corina Machado [líder da oposição na Venezuela]", disse, em entrevista à agência Lusa, Antonio Ledezma.
O antigo presidente da câmara de Caracas (2008-2015), condenado a 26 anos de prisão e exilado em Espanha desde 2017, assiste hoje à tarde no parlamento português a um debate sobre a crise política na Venezuela, a convite da Iniciativa Liberal, que agendou uma iniciativa para instar o Governo português ao reconhecimento do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, como Presidente eleito nas eleições de 28 de julho, em que o Presidente Nicolás Maduro foi declarado vencedor.
Tal reconhecimento, sustentou Ledezma, "é um ganho porque é um passo em frente" no percurso até 10 de janeiro, data marcada por Maduro para iniciar o terceiro mandato presidencial.
"É uma forma de dizer a Maduro, a partir de Portugal, que tem de se afastar, que tem de reconhecer a sua derrota e que tem de aceitar a transição pacífica e ordeira que Edmundo González e María Corina Machado lhe estão a propor", sustentou o opositor, membro da campanha presidencial da oposição.
"Eles [o regime de Maduro] falam de um banho de sangue, a oposição fala de banhar os venezuelanos de paz; eles falam de ódio e perseguição, nós falamos de convivência", disse.
Antonio Ledezma salientou a importante comunidade portuguesa e de lusodescendentes na Venezuela: "Não há nenhum português que não tenha uma família na Venezuela, e por isso a dor dos venezuelanos tem de ser também a dor dos portugueses".
"Os dirigentes políticos de Portugal têm a oportunidade de se unir por uma causa justa, a defesa dos direitos humanos dos venezuelanos e dos portugueses. A complexa crise humanitária que estamos a sofrer na Venezuela está também a ser sofrida pelos próprios portugueses", sublinhou.
Para Ledezma, o que está em causa é "um problema de direitos humanos", rejeitando por isso qualquer "pretexto ideológico" para se "dizer que não se apoia esta causa porque se ser de direita ou de esquerda".
"Para além destas fronteiras ideológicas, há a vida do povo, há o direito do povo à liberdade de expressão, a viver em paz e à propriedade, que estão a ser violados por este regime. E esse direito à propriedade, esse direito à vida é também sofrido pelos portugueses na Venezuela", apontou.
O reconhecimento da vitória de González Urrutia nas presidenciais pelas autoridades portuguesas, salientou, seria como "um abraço de solidariedade para com os venezuelanos".
"Se a Venezuela e os venezuelanos precisam de alguma coisa neste momento, é da solidariedade de todos os portugueses, porque o sofrimento é muito grande e este abraço de solidariedade é como um bálsamo que alivia a nossa dor", apelou.
Em declarações à Lusa, o presidente da Iniciativa Liberal defendeu que "cada dia que passa sem que a comunidade internacional dê um sinal claro de que é necessário remover Nicolás Maduro do poder, é um dia adicional de sofrimento para os venezuelanos e para a comunidade portuguesa".
"A arma dos tiranos é que as democracias deixem passar o tempo", referiu Rui Rocha.
"Da mesma forma que quando Portugal combateu a ditadura, o apoio internacional foi fundamental para a transição para a liberdade, o povo irmão da Venezuela precisa da ajuda da comunidade internacional", sustentou.
Rui Rocha considerou que "não há desculpas" para não reconhecer Edmundo González Urrutia como Presidente eleito, que teve "uma vitória expressiva" nas urnas.
"Sei que se invocam os interesses da comunidade portuguesa na Venezuela e a ameaça do encerramento dos consulados, mas em Espanha o parlamento aprovou exatamente o mesmo que estamos a propor, e a comunidade não teve nenhum custo adicional por isso", salientou.
O primeiro-ministro foi questionado hoje de manhã no parlamento, durante o debate preparatório do Conselho Europeu, pelo deputado da Iniciativa Liberal Rodrigo Saraiva, sobre se Portugal vai reconhecer Edmundo González Urrutia como Presidente, mas Luís Montenegro não respondeu diretamente, afirmando que não reconhece a vitória de Nicolás Maduro e que está a liderar na União Europeia um processo pacífico para "respeito pela vontade genuína" dos venezuelanos.
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