"O sistema de transição está, de facto, a funcionar bem. Também tive essa experiência há cinco anos, após a minha nomeação [...], quando tive alguns meses para me preparar e para me coordenar com o meu antecessor e, desta vez, seguimos a mesma abordagem", diz Charles Michel em entrevista à Lusa e outras agências de notícias europeias no âmbito do projeto European Newsroom (Redação Europeia), em Bruxelas.
A cerca de um mês de deixar o cargo para depois ser sucedido na liderança da instituição pelo ex-primeiro-ministro português, o responsável reforça que a passagem de pastas está a "correr muito bem", até porque António Costa e a sua equipa "participam diretamente em toda a preparação das reuniões do Conselho" Europeu, "ainda antes de dezembro", quando o político português toma posse.
Questionado sobre eventuais recomendações, Charles Michel garante não precisar de "dar conselhos a António Costa", dado que "ele tem muita experiência ao nível nacional e ao nível europeu".
Já quanto ao seu futuro profissional, quando deixar o Conselho Europeu após outros cargos políticos, o responsável afirma que só o mencionará "depois do fim do mandato".
Fontes europeias ouvidas pela Lusa adiantaram que, de momento, decorrem trabalhos preparatórios entre as equipas de Costa e de Michel, até porque a primeira cimeira europeia presidida pelo responsável português - a 19 e 20 de dezembro - será marcada por debates já em curso sobre a Ucrânia, Médio Oriente e competitividade económica.
António Costa, que fez parte do Conselho Europeu em representação de Portugal durante oito anos (período em que foi primeiro-ministro), conhece já alguns dos líderes da União Europeia (UE), mas pretende, no seu mandato de dois anos e meio à frente da instituição, encontrar pontos de convergência para compromissos entre os 27.
Por essa razão, antes de iniciar funções, realizou no verão e início do outono um roteiro pelas capitais europeias para se encontrar presencialmente com os chefes de Governo e de Estado da UE para conhecer melhor as suas perspetivas e prioridades para o próximo ciclo institucional no espaço comunitário.
A 'tour' europeia de António Costa começou em julho em Roma com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que foi a única entre os 27 líderes europeus a votar contra a sua nomeação, razão pela qual o responsável português decidiu começar a visita aí.
Seguiram-se países como a Hungria, que detém neste semestre a presidência rotativa do Conselho da UE, e a Polónia, que lhe vai suceder no primeiro semestre de 2025, e os restantes, terminando nos nórdicos.
Em junho passado, Costa foi eleito pelos chefes de Estado e de Governo da UE como presidente do Conselho Europeu para um mandato de dois anos e meio a partir de 01 dezembro de 2024, sendo o primeiro português e o primeiro socialista à frente da instituição.
Sucede no cargo ao belga Charles Michel, que está no cargo desde 2019. Antigo primeiro-ministro belga, o político liberal Charles Michel, de 48 anos, preside ao Conselho Europeu até 30 de novembro de 2024, num período marcado por crises como a saída do Reino Unido da União Europeia, a pandemia de covid-19, a invasão russa da Ucrânia e, mais recentemente, o reacender das tensões no Médio Oriente.
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