Gaza: Israel tenta "abortar" campanha de vacinação contra poliomielite

O Ministério da Saúde do Governo da Faixa de Gaza, controlado pelo movimento islamita palestiniano Hamas, denunciou hoje que Israel está a tentar "abortar" a campanha de vacinação contra a poliomielite impedindo o acesso ao norte do enclave.

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© EYAD BABA/AFP via Getty Images

Lusa
28/10/2024 19:27 ‧ há 4 semanas por Lusa

Mundo

Médio Oriente

"A ocupação israelita está a tentar abortar a campanha de vacinação contra a poliomielite por todos os meios, impedindo as equipas de chegarem ao norte de Gaza e levantando obstáculos à sua instalação também na cidade de Gaza", afirmou o Ministério da Saúde num comunicado.

 

O ministério adverte de que, devido a tais obstáculos, "a campanha corre o risco de fracassar, o que significa que a epidemia de poliomielite continuará a existir, ameaçando não só a Faixa de Gaza, mas também toda a zona circundante".

As autoridades de saúde de Gaza estão já a trabalhar em "alternativas" para "superar os obstáculos que a ocupação [israelita] está a colocar à campanha" de vacinação.

A campanha de vacinação está na sua fase final, cujo objetivo é inocular 119.279 crianças no norte do enclave palestiniano, em colaboração com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em agosto, a OMS confirmou um caso de poliomielite num bebé de 10 meses no centro do enclave palestiniano, no meio da ofensiva israelita - o primeiro caso registado na Faixa de Gaza em 25 anos. O poliovírus foi detetado em amostras ambientais em Khan Yunis e Deir el-Balah.

Para conseguir interromper a transmissão do vírus, é necessário que pelo menos 90% das crianças sejam vacinadas. É a única forma de controlar o surto e impedir a sua propagação.

A Faixa de Gaza é cenário de conflito desde 07 de outubro de 2023, data em que Israel ali declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis.

Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 97 dos quais continuam em cativeiro, 34 deles entretanto declarados mortos pelo Exército israelita.

A guerra, que hoje entrou no 388.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 43.020 mortos (quase 2% da população), entre os quais 17.000 menores, e 101.110 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

Cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, ao longo de mais de um ano de guerra, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.

O sobrepovoado e pobre enclave palestiniano está mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.

Leia Também: Trabalhadores humanitários denunciam violação das leis da guerra

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