No relatório analisa-se as incidências do clima em relação ao desenvolvimento do país, num diagnóstico realizado pela primeira vez na Guiné-Bissau, com um quadro estratégico para alinhar os objetivos de desenvolvimento com o combate às alterações climáticas.
No documento observa-se que a Guiné-Bissau possui a maior riqueza natural 'per capita' da África Ocidental, estimada em aproximadamente 3.874 dólares por pessoa.
Esta riqueza, explica-se, abrange terras agrícolas, recursos da pesca, florestas, habitats naturais, bem como recursos exploráveis, nomeadamente depósitos de bauxite e fosfato.
"Como país altamente vulnerável, existem inúmeras necessidades nos diferentes setores, no entanto, para ser mais eficiente e eficaz, a Guiné-Bissau deve priorizar ações relacionadas com a biodiversidade, a agricultura e a proteção social", no seu processo de desenvolvimento, refere-se no relatório apresentado em Bissau.
Na apresentação, o ministro da Economia, Plano e Integração Regional, Soares Sambu, enalteceu a importância e pertinência do relatório que disse ser uma parceira do Banco Mundial com o Governo guineense, mas exortou os parceiros internacionais a continuarem com os apoios ao país para implementação dos objetivos elencados no documento.
Entre as conclusões apresentadas, considera-se que, embora seja o país com "maior capital natural per capita" da África Ocidental, são necessárias medidas para enfrentar e combater os desafios colocados pelas alterações climáticas.
No relatório aponta-se que atualmente a Guiné-Bissau dispõe de recursos naturais que poderiam ser aproveitados para um crescimento sustentável resiliente, mas se nada for feito no domínio da adaptação às alterações climáticas o Produto Interno Bruto (PIB) 'per capita' conhecerá uma queda de 7,3% até 2050.
No estudo realça-se ainda que a Guiné-Bissau "enfrenta obstáculos significativos" ao desenvolvimento, tais como elevadas taxas de pobreza, instabilidade política e desafios económicos, incluindo uma excessiva dependência da castanha de caju.
Nesse particular, salienta-se que as projeções para os aumentos da temperatura e os períodos de seca prolongados poderão trazer impactos severos na produção agrícola, sobretudo nas regiões do interior da Guiné-Bissau.
"As exportações de caju, que representam 90% do total dos lucros das exportações do país, realçam a forte dependência da economia deste único produto -- uma dependência que expõe o setor agrícola e a economia nacional a riscos significativos (...), mas as alterações climáticas podem afetar a produtividade", defende o relatório.
O aumento das temperaturas e períodos longos de seca poderão concorrer para a redução do PIB guineense até 4,1% em 2050, nota-se no relatório que refere ainda que a pobreza rural tende a aumentar enquanto as infraestruturas, os sistemas da educação e saúde do país mantêm-se subdesenvolvidos.
No estudo faz-se ainda uma previsão para um crescimento ao nível de emissões de gases com efeito de estufa devido à agricultura e às alterações na utilização dos solos, potenciados pela desflorestação.
Contudo, o relatório sublinha o facto de a Guiné-Bissau "ter grandes ambições de mitigação", visando uma redução de 30% das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
A instabilidade política do país, as fragilidades institucionais e os recursos financeiros limitados colocam desafios à implementação destes compromissos climáticos, que dependem fortemente de financiamento externo, frisa-se ainda.
Leia Também: Cerca de 26 milhões de pessoas com fome aguda no Sudão