"Escolhida para apanhar algodão". Mensagens racistas recebidas nos EUA

Vários estados norte-americanos foram atingidos com mensagens de índole racista, e o FBI está a par das mensagens "repugnantes" que estudantes têm recebido. As mensagens foram recebidas 24 horas após a eleição de Donald Trump como presidente, mas a campanha de Trump já negou qualquer conhecimento de causa sobre o assunto.

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© MICHEL RUBINEL/AFP via Getty Images

Teresa Banha
08/11/2024 17:16 ‧ 08/11/2024 por Teresa Banha

Mundo

EUA

Autoridades nos Estados Unidos (EUA) estão a investigar a origem de várias mensagens racistas que têm vindo a ser recebidas por crianças e estudantes universitários negros.

 

Segundo a imprensa internacional algumas das mensagens fazem referências à recolha de algodão, já que muitos escravos realizaram trabalhos forçados em campos de algodão, nos estados do sul do país. "Olá, Talaya. Foste escolhida para recolher algodão na plantação mais próxima [...]. O nosso chefe de escravos vai buscar-te", lê-se numa das mensagens a que a imprensa teve acesso.

A CNN Internacional falou com a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), e o seu presidente alertou para as possíveis implicações de uma retórica de ódio racista em mais de uma dúzia de estados - de Nova Iorque ao Nevada.

"A infeliz realidade de eleger um presidente que, historicamente, tem abraçado e, por vezes, encorajado o ódio, está a desenrolar-se perante os nossos olhos", acusou líder da associação em causa, Derrick Johnson. "Essas mensagens representam um aumento alarmante na retórica vil e abominável de grupos racistas em todo o país, que agora se sentem encorajados a espalhar o ódio e alimentar as chamas do medo que muitos de nós estamos sentindo após os resultados das eleições de terça-feira", acrescentou.

O aparecimento destas mensagens surge na mesma altura das eleições no país, que deram o cargo de 47.º presidente a Donald Trump. Questionada sobre o assunto pela publicação The Washington Post (e não só), a campanha do presidente-eleito negou qualquer envolvimento e conhecimento da origem destas mensagens, dizendo que "esta campanha não tem nada a ver com estas mensagens".

Pelo menos algumas das mensagens foram enviadas pela TextNow, empresa que segundo a CNN Internacional deixa que se use um e-mail para o registo e que mensagens sejam enviadas a partir de um número gerado. A empresa disse, no entanto, que foram desativadas as contas associadas aos números em causa em cerca de 1h.

Já a Procuradoria-Geral da Nova Iorque confirmou a situação, que também investiga, e confirmou que as mensagens parecem ter como alvo "pessoas negras, incluindo estudantes".

"O FBI está a par destas mensagens ofensivas e racistas enviadas para várias pessoas no país e está em contacto com o Departamento da Justiça e outras autoridades federais", explicou o Departamento Federal de Investigação.

Talaya, uma residente de Nova Jérsia que recebeu a mensagem anteriormente mencionada, falou com a CNN Internacional, dizendo que estava "chocada" por receber a mensagem em causa.

"A minha reação inicial foi provavelmente de incredulidade, como se pensasse que era uma piada", explicou Talaya Jones, que enviou a mensagem de texto aos seus entes queridos. "Isto mostra que não chegámos tão longe como toda a gente pensava como nação, desde o tempo em que a escravatura ainda era uma coisa", apontou.

A mãe de uma das jovens que recebeu a mensagem, no estado do Alabama falou também a imprensa, dado conta de que a filha estava a chorar por ter recebido a mensagem, que dizia também "para ela se preparar para ser revistada".

A Procuradoria-Geral do Louisiana também confirmou que as mensagens chegaram a este estado-americano, dizendo que pediu uma investigação para que origem das mensagens "repugnantes" fossem investigadas, e que estas tinham a intenção de dividir a população.

Noutros estados também foram recebidas estas mensagens, como em Maryland, Michigan, Georgia, Carolina do Sul, Nevada ou Virginia, onde houve pessoas que "se sentem desapontadas por estas mensagens serem enviadas um dia depois da eleição".

Também a Casa Branca foi questionada sobre o assunto na quinta-feira, tendo a porta-voz, Karine Jean-Pierre, sublinhando que era preciso apurar os factos quando às denúncias de que seriam apoiantes de Trump a enviar as mensagens. "É importante para todas as comunidades se sentirem protegidas e seguras. É algo que este presidente e vice-presidente têm feito nos últimos três anos e meio. Percebemos quão vulneráveis estas comunidades se possam sentir", referiu, dando conta de que iria falar com a sua equipa sobre os últimos desenvolvimentos sobre o assunto.

Leia Também: Racismo no Real-Barcelona. Raphinha explica por que continuou a jogar

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