No sábado, uma coluna da ONU de 109 camiões que transportavam ajuda alimentar foi atacada por saqueadores não-identificados depois de entrar no território palestiniano pelo posto fronteiriço de Kerem Shalom, e apenas 11 camiões conseguiram chegar ao seu destino - o "pior" saque em Gaza em termos de volume, segundo a ONU.
"Há já algum tempo que alertamos para este problema dos saques armados e verificámos que estão a tornar-se mais organizados, mais eficazes", comentou hoje o porta-voz de António Guterres, acrescentando que "a pilhagem armada está a tornar-se sistemática e deve cessar imediatamente", porque "está a dificultar as operações humanitárias vitais e a colocar o pessoal ainda em maior perigo".
"Mas as operações de manutenção da ordem devem ser legais, necessárias e proporcionais", insistiu, referindo-se a uma operação conduzida pelo Governo do movimento islamita palestiniano Hamas contra alegados saqueadores na segunda-feira.
"Estamos muito preocupados com estas informações", sublinhou Dujarric.
O Ministério do Interior do Governo do Hamas na Faixa de Gaza anunciou na segunda-feira que pelo menos 20 pessoas tinham sido mortas numa operação contra saqueadores de ajuda humanitária, garantindo que aquela "não será a última" operação do género.
Questionado sobre um artigo do diário norte-americano The Washington Post que citava um memorando interno da ONU sugerindo que certos gangues poderiam beneficiar da "benevolência passiva ou mesmo ativa" ou da "proteção" das forças israelitas, o porta-voz da ONU disse não ter conhecimento desse documento.
Mas "a ideia de que as forças israelitas possam estar a permitir as pilhagens, ou não estejam a fazer o suficiente para as impedir, é francamente alarmante, dadas as responsabilidades de Israel, enquanto potência ocupante, para garantir a entrega segura da ajuda humanitária", sustentou, apelando a "todas as partes envolvidas" para que façam tudo o que for possível para garantir que a ajuda possa ser distribuída em segurança a quem dela urgentemente necessita.
A Faixa de Gaza é cenário de conflito desde 07 de outubro de 2023, data em que Israel ali declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis.
Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 97 dos quais continuam em cativeiro, 34 deles entretanto declarados mortos pelo Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 410.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 43.972 mortos (quase 2% da população), entre os quais mais de 17.000 menores, e 104.008 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, ao longo de mais de um ano de guerra, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.
O sobrepovoado e pobre enclave palestiniano está mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Na semana passada, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio na Faixa de Gaza e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita.
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