O advogado de Gisèle Pelicot, Stéphane Babonneau, deu uma entrevista ao jornal The Guardian, que foi publicada esta quarta-feira.
À publicação britânica, Babonneau explica como herdou o caso e o que pensou quando teve noção da dimensão do mesmo, em 2022.
Explicando que estava "habituado a ver situações perturbadoras", o advogado apontou: "Este nível de depravação? Nunca vi nada assim".
Durante a entrevista, o advogado explicou que decidiu ficar com o caso depois de o antigo advogado de Pelicot, Antoine Camus, seu amigo e colega, lhe dizer que não estava preparado para um processo desta dimensão. Já Babonneau, após ter visto as cerca de 20 mil fotografias e vídeos que o marido de Pelicot tinha guardado e o ajudaram a identificar 50 homens, ficou muito preocupado em que a mulher, com 72 anos, não aguentasse.
Quando recebeu as primeiras informações, o advogado recorda: "Pensei: 'Como é que isto é possível? Era difícil para mim compreender como é que uma coisa destas podia acontecer'", afirmou, explicando que, quando conheceu Gisèle, notou logo que esta era uma pessoa "genuína" e que estava "perdida com todo o processo legal" - precisando mesmo de que alguém a encaminhasse.
O advogado contou também que o magistrado responsável pelo caso garantiu à defesa que esta tinha de ver os vídeos que já estavam recolhidos como prova porque só assim iriam perceber a dimensão do caso.
"Tivemos de a preparar para o facto de ela ter sido sexualmente abusada, mas também para que o objetivo era degradar a sua imagem", afirmou Babonneau, explicando que as violações aconteceram no seu aniversário, em passagens de ano e noutros dias festivos.
O responsável explicou ainda que Gisèle estava muito preocupada com o que as pessoas iam pensar dela, se iriam achar que "ela era estúpida por tudo ter acontecido durante dez anos". "E lembro-me também de ela estar muito perturbada porque foi gravada a ressonar. Estava nua, havia penetrações [e outros abusos], que ela sabia que as pessoas iam ver - mas estava envergonhada por ter ressonado", frisou.
O advogado falou ainda sobre o facto de que Gisèle ter querido que este julgamento fosse às claras e que a atitude da mulher foi a de que impedir que algo assim voltasse a acontecer: "Ela disse-nos. Nunca imaginei que uma coisa destas pudesse ser possível - e feita pelo meu próprio marido".
E o homem conta que esta atitude já teve repercussões, defendendo: "Já não é possível que, quando alguém acorda e não se lembra de nada, e tem problemas ginecológicos, não pense em Gisèle Pelicot. Graças a Gisèle Pelicot, os julgamentos de violação serão públicos e expostos".
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