"A decisão do Tribunal Constitucional sobre a anulação das eleições presidenciais é a única solução justa", comentou Ciolacu numa mensagem na rede social Facebook, acrescentando que vários documentos desclassificados na quarta-feira demonstraram que o resultado "foi flagrantemente distorcido como consequência da intervenção da Rússia".
Georgescu tinha vencido inesperadamente a primeira volta realizada no passado dia 24 de novembro, graças a uma sofisticada campanha nas redes sociais em que afirmou não ter gastado qualquer valor. O defensor de ideias nacionalistas e de extrema-direita somou 22,9% dos votos depois de as sondagens apontarem para apenas 6% das preferências.
O primeiro-ministro defendeu que as eleições presidenciais devem ser repetidas e que as investigações oficiais devem esclarecer quem são os culpados desta interferência, sendo necessárias "evidências sólidas" para que os romenos mantenham a confiança nas instituições e nos processos democráticos.
"O processo de eleição do presidente da Roménia será reiniciado na sua totalidade e cabe ao Governo estabelecer uma nova data para as eleições", informou o Tribunal Constitucional na sua decisão inédita em 35 anos de democracia da Roménia, com 19 milhões de habitantes e membro da União Europeia e da NATO.
A opositora de Geogescu na segunda volta que estava agendada para domingo, Elena Lasconi, líder da formação centrista União Salvar a Roménia (USR), criticou a decisão judicial.
"Hoje é o momento em que o Estado romeno humilhou a democracia. Deus, o povo romeno, a verdade e a lei prevalecerão e punirão os culpados de destruir a nossa democracia", disse.
Por sua vez, George Simion, líder da ultranacionalista Aliança para a União dos Romenos (AUR), descreveu a decisão como uma "vergonha" e um "golpe de Estado".
A AUR, que ficou em segundo lugar nas eleições parlamentares do passado domingo com 18,3%, apoiou Georgescu na já anulada segunda volta, que deveria realizar-se no próximo domingo.
Simion apelou aos apoiantes para não contestarem a decisão nas ruas de forma a evitar confrontos: "Não iremos para a rua, eles não nos vão provocar. Este sistema deve cair democraticamente!".
A breve declaração que anuncia a decisão do tribunal não deu informações sobre os motivos desta anulação, limitando-se a informar que as razões serão publicadas na íntegra da resolução no Jornal Oficial.
Os magistrados tomaram a decisão depois de vários relatórios de informação secreta desclassificados na quarta-feira pelo atual Presidente romeno, Klaus Iohannis, terem confirmado que a campanha de Georgescu foi impulsionada por uma estratégia de interferência ligada a um "ator estatal", identificado pela imprensa romena como a Rússia.
Uma rede de 25.000 contas TikTok e grupos de Telegram coordenados desde 2022 alargou a presença de Georgescu, apoiada por um milhão de euros em financiamento externo, pagamentos a influenciadores e técnicas avançadas para evitar a deteção de "bots" (software para praticar ações pré-definidas).
Ciolacu defendeu ser "extremamente importante validar os mandatos do novo Parlamento e alcançar uma maioria parlamentar pró-europeia", numa referência às eleições legislativas em que as forças pró-europeias obtiveram o apoio de mais de 55% dos votos.
Nestas eleições, os três partidos ultranacionalistas obtiveram mais de 30% dos votos.
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