Bashar al-Assad esteve 24 anos à frente da Síria. Como chegámos aqui?

Os rebeldes declararam hoje Damasco 'livre' do presidente Bashar al-Assad, após 12 dias de ofensiva de uma coligação liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante, juntamente com outras fações apoiadas pela Turquia, para derrotar o governo sírio.

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Lusa
08/12/2024 13:13 ‧ 08/12/2024 por Lusa

Mundo

Síria

O presidente sírio, no poder há 24 anos, abandonou o país na noite de sábado para hoje, encontrando-se em parte incerta.

 

Eis alguns momentos-chave da presidência síria de al-Assad:

Sucessão ao pai e chegada ao poder

Bashar al-Assad prestou juramento perante o parlamento em 17 de julho de 2000, tendo sido o único candidato numa votação organizada um mês após a morte do seu pai, Hafez al-Assad.

Em 10 de junho desse ano, no dia da morte de Hafez al-Assad, que tinha governado a Síria durante 30 anos, o parlamento alterou a Constituição para reduzir a idade mínima exigida para o exercício da presidência, de 40 para 34 anos -- a idade de Bashar na ocasião.

Bashar al-Assad tornou-se, assim, no líder das Forças Armadas e do partido Baath, no poder.

A breve 'primavera' de Damasco

Em setembro de 2000, cerca de uma centena de intelectuais e artistas pediram a Damasco para que garantisse uma amnistia aos presos políticos e levantassem o estado de emergência que vigorava desde 1963.

Entre esse mês e fevereiro de 2001, o país testemunhou uma abertura a uma maior liberdade de expressão, mas a detenção de dez opositores nesse verão acabou por pôr fim a esta 'primavera de Damasco'.

Saída do Líbano

Já em 2005, o primeiro-ministro libanês Rafik Hariri é assassinado num atentado em Beirute.

A oposição anti-Síria responsabilizou as autoridades libanesas e sírias e pediu a retirada das tropas de Damasco, no país desde 1976.

Face à pressão popular e da comunidade internacional, os soldados sírios deixaram o Líbano em 26 de abril desse ano, ao fim de 29 anos, ainda que a liderança da Síria tenha negado qualquer envolvimento.

Declaração de Damasco

Em outubro do mesmo ano, a oposição lançou a "Declaração de Damasco", em que pediu uma "mudança democrática radical" contra "um regime totalitário e sectário".

Face à união entre oposição até então mais fragmentada, Damasco aumentou o número de restrições.

No final de 2007, as autoridades lançaram uma campanha de detenções contra opositores que reclamavam uma maior democracia.

Repressão para controlo do efeito da "Primavera Árabe"

A Síria foi palco, em março de 2011, de uma revolta popular, consequência da "Primavera Árabe" que se tinha desenrolado noutros países da região. A revolta foi reprimida de forma brutal pelo regime, de Bashar al-Assad.

No mês seguinte, os protestos intensificaram-se e tornaram-se mais radicais.

O Governo lançou uma guerra contra os rebeldes, a quem chamou de "terroristas manipulados" por influência estrangeiro.

Em 2012, a reposta das autoridades intensificou-se, com a entrada em ação de armas pesadas, incluindo de bombardeiros.

O apoio de Irão e Rússia

Já em 2013, o movimento xiita libanês Hezbollah reconheceu que as suas tropas estavam a trabalhar com Damasco. Ao memo tempo, o Irão xiita tornou-se o principal aliado regional.

Assad pertence à comunidade alauita (10% da população), oriunda do xiismo, enquanto a maioria da população síria é sunita.

Dois anos depois, em 30 de setembro de 2015, a Rússia lançou uma intensa campanha militar para apoiar as forças sírias, à beira do colapso.

Com Moscovo, Damasco obteve vitórias estratégicas sobre os rebeldes e forças 'jihadistas'.

Uma trégua foi declarada em março de 2020, após um acordo com Rússia e Turquia, mas a Síria continuou a ser vítima de bombardeamentos esporádicos e de ataques por grupos 'jihadistas'.

Quarto mandato

Em 26 de maior de 2021, Bashar al-Assad foi reeleito, sem surpresa, para um quarto mandato à frente do país, recolhendo 95,1% dos votos.

Regresso à Liga Árabe

Com a Síria reintegrada na Liga Árabe, Bashar al-Assad participou pela primeira vez em dez anos numa cimeira desta organização em maio de 2023. A Síria estava afastada da Liga Árabe desde 2011, após a repressão da revolta popular.

Mandado de captura internacional

Alegados crimes contra a humanidade através de ataques químicos na Síria em 2013 valeram-lhe, em novembro, um mandado de captura internacional pela justiça francesa. No dia seguinte, foi o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) -- a mais alta instância judicial das Nações Unidas -- que ordenou à Síria que interrompesse a tortura e tratamentos cruéis no país.

Captura de Damasco por rebeldes

Na noite de 07 para 08 de dezembro deste ano, após uma ofensiva relâmpago de uma coligação liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante, juntamente com outras fações apoiadas pela Turquia, os rebeldes disseram ter tomado Damasco.

O presidente sírio deixou o país, perante a ofensiva rebelde, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

O OSDH, com sede em Londres e rede de informadores na Síria, já tinha indicado que, face ao avanço das forças rebeldes, o exército e as forças de segurança tinham abandonado o aeroporto de Damasco.

Segundo a Rússia, após negociações entre Bashar al-Assad e várias partes envolvidas no conflito, o chefe de Estado "decidiu renunciar ao seu cargo presidencial e deixou o país com instruções para realizar a transferência de poder de forma pacífica".

Leia Também: França saúda "dia histórico para a Síria e para o povo sírio"

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