2024: Manifestações e gás lacrimogéneo nas ruas marcam ano em Moçambique

Apitos, buzinões e gás lacrimogéneo marcaram o ano em que Moçambique viveu a pior contestação aos resultados eleitorais, com mais de 100 mortos nos confrontos entre a polícia e os apoiantes do pastor que enfrenta "máquina da Frelimo".

Notícia

© ALFREDO ZUNIGA/AFP via Getty Images

Lusa
10/12/2024 09:06 ‧ há 5 semanas por Lusa

Mundo

Moçambique

Na manhã de 09 de outubro, mais de oito milhões de moçambicanos, num universo de 17 milhões, foram às urnas, nas sétimas eleições gerais, escrutínio que seria marcado por uma série de manifestações de repúdios aos resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).

 

Os resultados divulgados quase 15 dias depois atribuíram a vitória a Daniel Chapo nas presidenciais, com 70,67% dos votos, e, nas legislativas, ao partido Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder desde a independência (1975), dando início a um movimento de contestação liderado pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, um líder religioso que abandonou os dois principais partidos de oposição em Moçambique para enfrentar, sozinho, a formação que Governa o país há quase 50 anos.

Na tarde de 24 de outubro, enquanto o presidente da CNE, Carlos Matsinhe, anunciava os resultados numa das mais prestigiadas salas de conferências de Maputo, fumo de pneus queimados tomava os céus das principais ruas dos subúrbios da capital, dando início a uma série de confrontos entre a polícia e os manifestantes, que se estenderam por todo o país.

Três dias antes, a polícia tinha já disparado gás lacrimogéneo sobre um grupo de pessoas que se tentou manifestar no local onde ocorreu o duplo homicídio, a tiro, na noite de 18 de outubro, de dois aliados Mondlane, um dos quais seu advogado, Elvino Dias.

O gás foi lançado no local quando Mondlane fazia declarações aos jornalistas, a apelar à calma no âmbito da marcha que convocou, obrigando o político a fugir, um momento captado por vários órgãos de comunicação social nacionais e estrangeiros.

Com mais de uma centena de mortos e perto de 350 feridos a tiro, os confrontos entre a polícia e os manifestantes continuaram nas semanas que seguiram, levando o caos às ruas, paralisando diversos centros urbanos, com bloqueios às principais rodovias, mesmo na capital, e até encerrando temporariamente a principal fronteira com a África do Sul, Ressano Garcia.

A onda de manifestações levou ao bloqueio de avenidas, buzinões ou bater de panelas nos principais centros urbanos.

Mondlane, que abandonou o país dias após o duplo homicídio dos seus aliados, tem sido a voz de comando para as manifestações, a partir dos seus concorridos diretos na rede social Facebook, seguidos, sobretudo, pela camada mais jovem.

Os seus principais opositores falam de aproveitamento das fragilidades sociopolíticas de um país onde as estatísticas indicam que, no universo de 32 milhões de moçambicanos, cerca de 9,4 milhões são jovens, um terço dos quais sem emprego, escolaridade ou formação profissional.

Mas quem o segue vê uma "nova proposta" para, como refere o seu slogan, "salvar Moçambique", um país que está entre os mais pobres apesar do notável potencial, sobretudo em recursos minerais.

"Para a nova juventude moçambicana, o discurso de revindicação histórica de quem trouxe a libertação ou lutou pela democracia não mais faz sentido. A nova juventude quer emprego", defendeu à Lusa o analista político Alberto da Cruz.

Nas ruas de Maputo, em alguns pontos, ainda há marcas dos confrontos, entre vestígios de pneus queimados e algumas lojas vandalizadas, protestos descritos pelas autoridades como uma tentativa de "subverter a ordem constitucional instituída", financiada por "algumas organizações da sociedade civil e pessoas singulares de má-fé.

Apesar dos apelos à contenção por parte da polícia, o caos e as paralisações marcaram vários dias nos últimos meses, mas o atropelamento de uma jovem, no meio dos protestos, por uma viatura militar blindada que circulava em alta velocidade, num cenário de extrema violência, chamaria novamente a atenção do mundo para Moçambique.

O episódio, cujas imagens foram captadas pela comunicação social e diversas pessoas que estavam no local, revoltou os manifestantes.

Mas antes mesmo das eleições, Moçambique já estava, uma vez mais, nos holofotes do mundo, com uma nova vaga de ataques em fevereiro em direção ao sul de Cabo Delgado, província que desde 2017 é aterrorizada por grupos rebeldes associados ao Estado Islâmico.  

Mais de 67 mil pessoas fugiram das suas terras de origem e as incursões foram justificadas pelo executivo como resultado da "movimentação de pequenos grupos de terroristas" que saíram dos seus quartéis (...) em direção ao sul de Cabo Delgado, após um período de relativa estabilidade.

Várias outras incursões rebeldes registaram-se nos meses que seguiram, destacando-se, entre os maiores, o ataque de 10 e 11 de maio, na sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de insurgentes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e com os militares ruandeses, que apoiam o país no combate aos rebeldes.

Embora as autoridades defendam que as coisas estão a voltar à normalidade, o projeto de exploração de gás natural da TotalEnergies, orçado de 25 mil milhões de dólares (23,7 mil milhões de dólares) e classificado como um dos maiores investimentos em África, continua suspenso, embora o presidente da empresa assegure que quase 80% dos 14 mil milhões de dólares (13,26 mil milhões de euros) necessários para o megaprojeto de gás em Cabo Delgado estão garantidos.

Leia Também: Maior jornal moçambicano com dificuldades na distribuição devido a protestos

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas