A esta trégua há a juntar o surpreendente fim do regime sírio da família al-Assad, com a queda de Bashar al-Assad (filho), que, apesar das incertezas sobre um futuro democrático (ocidental) do país, aumenta a esperança numa pacificação no Médio Oriente, algo que Rússia, a braços com a guerra na Ucrânia, e Irão, afetado por graves sanções económicas, parecem, mesmo assim, capazes de contrariar.
A ofensiva israelita contra Gaza foi lançada na sequência do ataque do Hamas de 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e levou ao sequestro de mais de 250 pessoas, segundo as autoridades israelitas.
Um dia depois, o movimento xiita libanês pró-iraniano Hezbollah começou a bombardear o norte de Israel e entrou também no conflito, saindo em defesa dos "irmãos palestinianos" -- as partes chegaram a 27 de novembro a uma trégua de 60 dias, com ambas a denunciar mutuamente violações ao acordo.
Independentemente das esperanças num cessar-fogo, a guerra entre Israel e o Hamas já causou, "oficialmente", a morte a quase 46.500 pessoas (44.758 palestinianos e 1.706 israelitas), na grande maioria civis.
O total inclui entre 134 a 146 jornalistas, 120 académicos e mais de 225 trabalhadores humanitários, contando com os 179 funcionários da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA). Entre os mortos estão sinalizados 12 portugueses, na quase totalidade luso-israelitas.
O Hamas contabilizou também mais de 106.200 feridos. Os números não são totais, pois estima-se que centenas ou milhares de corpos possam estar sob os escombros dos devastados edifícios da Faixa de Gaza.
Na Cisjordânia, cerca de 800 palestinianos, na maioria civis, morreram às mãos do exército israelita ou dos colonos. Responsáveis israelitas referiram que cerca de três dezenas de soldados israelitas morreram na Cisjordânia, em ataques palestinianos ou durante as operações militares.
As sucessivas negociações para um acordo de cessar-fogo, entabuladas maioritariamente pelo Qatar, Egito e Estados Unidos, têm esbarrado nas exigências israelitas de libertação de todos os reféns ainda retidos pelo Hamas, que, por sua vez, diz que só os liberta depois de as tropas de Israel abandonarem o enclave.
Mas setores do Governo ultraconservador do primeiro-ministro israelita, Benjamin Natanyahu, já assumiram publicamente a ideia de criar mais colonatos e mesmo acabar com os territórios palestinianos, o que tem sido considerado inaceitável pela comunidade internacional, que continua, maioritariamente, a defender a solução de dois Estados independentes.
Mas, também internamente, Netanyahu debate-se com uma luta contra a justiça, pois começou na terça-feira o julgamento das acusações que vêm desde 2019 de corrupção, fraude, suborno e quebra de confiança em três casos distintos, de receção de presentes em troca de favores e tratamento favorável para uma cobertura positiva em vários meios de comunicação social, além das mais recentes, associadas às pressões para manipular as atas das reuniões anteriores a 07 de outubro de 2023.
O prolongamento da guerra tem sido associado também à vontade de Netanyahu em ganhar tempo para anular o julgamento, embora as manifestações quase diárias contra a sua manutenção no poder lembrem que quando cair será com estrondo.
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