Decretada a 3 de dezembro, a lei marcial, a primeira em mais de 40 anos na Coreia do Sul, durou apenas cerca de seis horas, mas desencadeou uma tempestade interna que dura até hoje.
O presidente impôs a medida alegando que a oposição estava a ser controlada por "elementos pró-Coreia do Norte". A oposição acusou-o de usar este argumento para controlar a Assembleia Nacional e conseguiu cancelar, por unanimidade, o dramático recurso poucas horas depois.
Yoon Suk Yeol pediu "desculpas", mas não escapou a uma tentativa de destituição que acabou por ser boicotada no sábado, 7 de dezembro (e que será novamente votada no próximo sábado, 14 de dezembro). Novas ações voltam, esta quarta-feira, a pôr o seu lugar em causa.
Buscas, detenções e até uma tentativa de suicídio
Na terça-feira, depois de vários interrogatórios por parte da polícia, foi oficialmente detido o ex-ministro da Defesa, Kim Yong-Hyun. O governante - que assumiu a culpa pela lei marcial pouco depois de esta ter sido revogada - foi a primeira pessoa a ser detida no âmbito deste processo, tendo sido acusado de ter recomendado a lei marcial a Yoon e de ter enviado tropas para a Assembleia Nacional para impedir os deputados de a votarem.
Depois disso, dois principais chefes da polícia foram detidos pelo papel na breve imposição da lei marcial na semana passada. As forças de segurança sul-coreanas disseram que o comissário-geral da agência de polícia sul-coreana, Cho Ji-ho, e o chefe da agência de polícia metropolitana de Seul, Kim Bong-sik, estavam detidos na esquadra de Namdaemun, na capital.
Os dois dirigentes policiais estão a ser investigados pelo papel no envio de forças policiais para a Assembleia Nacional, numa tentativa de impedir os deputados de entrar no parlamento para suspender a lei marcial, anunciada abruptamente na noite de 3 de dezembro.
Seguiram-se buscas ao gabinete do presidente, uma semana depois de este ter anunciado a polémica lei. "As buscas no complexo presidencial já começaram e conseguimos aceder ao gabinete de serviço civil. No entanto, não entramos no edifício principal devido às restrições de acesso impostas pelos agentes de segurança presidencial", disse um porta-voz da polícia à Agência France Presse.
Ministro assumiu culpa, demitiu-se e tentou suicidar-se
Na sequência da sua detenção, o ex-ministro da Defesa da Coreia do Sul Kim Yong-hyun tentou cometer suicídio, mas falhou e encontra-se em estado estável. Kim tentou matar-se num centro de detenção em Seul, pouco antes de ser formalmente detido. Após a tentativa falhada de suicídio, Kim foi colocado numa cela especial e não corre perigo de vida, acrescentou Shin.
Recorde-se que os procuradores interrogaram Kim três vezes desde da detenção inicial, no domingo, depois de ter comparecido voluntariamente para responder na investigação.
Os procuradores têm até 20 dias para decidir se acusam Kim ou não. A condenação por rebelião implica uma pena máxima de morte.
Presidente segue na 'corda bamba'
O presidente sul-coreano, Yoon Suk-Yeol, e aliados são alvo de investigações criminais e tentativas de destituição. O Ministério da Justiça proibiu Yoon e oito pessoas de saírem do país, uma vez que as autoridades os consideram suspeitos no caso da lei marcial, sendo a primeira vez que um presidente em exercício na Coreia do Sul é alvo de uma proibição de viajar.
Embora o presidente tenha imunidade contra processos judiciais enquanto estiver em funções, tal não se estende a alegações de rebelião ou traição.
Mais ainda: a oposição da Coreia do Sul agendou para sábado a votação no parlamento de uma segunda moção de destituição contra o presidente. A votação está marcada "para 14 de dezembro às 17h00 [8h00 em Lisboa]", disse à agência de notícias France-Presse Jo Seung-lae, deputado do Partido Democrático.
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