"Conseguimos entrar em contacto com as autoridades interinas", afirmou Gonzalo Vargas Llosa, representante do Alto Comissariado na Síria, numa conferência de imprensa da ONU.
"Os primeiros sinais que nos estão a enviar são construtivos", acrescentou, falando a partir de Damasco.
O regime do ex-Presidente sírio Bashar al-Assad, que esteve no poder 24 anos, foi derrubado no domingo passado ao cabo de uma ofensiva que durou cerca de 12 dias.
A operação começou a 27 de novembro e foi liderada pela Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham - HTS, em árabe), herdeira da antiga afiliada síria da Al-Qaida e classificada como grupo terrorista por países como os Estados Unidos, o Reino Unido, o Canadá e ainda a União Europeia (UE).
Perante os desafios políticos, sociais e de segurança que o país multiétnico, multirreligioso e fragmentado enfrenta, as novas autoridades estão a tentar transmitir uma imagem de estabilidade.
"São construtivos porque estão a dizer que querem que fiquemos na Síria e que apreciam o trabalho que temos vindo a fazer há muitos anos", disse Vargas Llosa.
"O mais importante para nós é que nos digam que nos vão dar a segurança de que necessitamos para realizar as nossas atividades", continuou.
O primeiro-ministro interino Mohammed al-Bashir, nomeado na terça-feira para liderar um governo de transição até 01 de março, prometeu estabelecer um "Estado de direito".
Al-Bashir, que chefiou o Governo de Salvação Nacional nomeado pelo HTS na província de Idlib (noroeste) nos anos anteriores à ofensiva, prometeu também que as novas autoridades irão "garantir os direitos de todos os povos" e apelou aos milhões de refugiados sírios para que regressem ao país.
Muitos sírios procuram agora familiares que desapareceram durante as décadas de repressão sob o regime de Assad.
Ao longo dos últimos 13 anos, "dezenas de milhares de famílias" em todo o mundo pediram ajuda ao Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para encontrar pessoas desaparecidas na Síria, afirmou o chefe da delegação da organização na Síria, Stephan Sakalian, na mesma conferência de imprensa.
O CICV documentou "mais de 35.000 casos", mas "há todas as razões para acreditar que existem muitos mais do que isso", disse Sakalian, a partir de Damasco.
De acordo com as agências da ONU, a situação no terreno é ainda "muito fluida", mas o CICV, que apela à proteção dos arquivos, cemitérios e outros locais onde possam ter sido enterradas pessoas, diz estar pronto a ajudar "todas as partes que exercem autoridade na Síria a encontrar os desaparecidos".
"O que precisamos agora é de uma discussão urgente e mais estruturada com o governo interino para analisarmos em conjunto a melhor forma de coordenar estes esforços e preservar não só os documentos, mas também as valas comuns e qualquer outra informação que possa ser disponibilizada pelas próprias pessoas", disse Sakalian.
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