As escolhas de Trump oferecem uma antevisão da forma como a sua administração poderá lidar com o aborto nos Estados Unidos, após ter mudado repetidamente a sua opinião sobre a questão durante a campanha.
O republicano tem tentado distanciar-se dos aliados republicanos anti-aborto, remetendo para os estados a decisão sobre as suas políticas nesta matéria, apesar de se orgulhar de ter nomeado três juízes do Supremo Tribunal que ajudaram a derrubar as protecções constitucionais para o aborto, que se mantiveram durante meio século.
O direito ao aborto nos Estados Unidos sofreu uma mudança inesperada em 2022, quando o Supremo Tribunal eliminou a proteção federal do aborto ao anular o caso Roe v. Wade, deixando as políticas de aborto e direitos reprodutivos nas mãos dos estados.
Muitos grupos de defesa dos direitos ao aborto afirmam estar cautelosos, em parte porque muitos das escolhas de Trump têm fortes opiniões anti-aborto.
"Ainda há muita coisa que não sabemos sobre como será a política", disse Mary Ruth Ziegler, professora de Direito na Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia.
Trump anunciou que iria nomear o ativista anti-vacinas Robert F. Kennedy Jr. para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, apontado pelas forças anti-aborto como fulcral para reduzir o direito ao aborto em todo o país.
Marty Makary, cirurgião e correspondente da estação televisiva Fox News, é a escolha de Trump para dirigir a Food and Drug Administration (FDA), que desempenha um papel fundamental no acesso a medicamentos para o aborto e contraceção, já foi acusado por grupos de defesa de partilhar informações falsas sobre o aborto.
Russell Vought, conservador, anti-aborto e um dos principais arquitetos do Projeto 2025, foi nomeado diretor do Gabinete de Gestão e Orçamento.
Entre outras ações destinadas a limitar os direitos reprodutivos, o Projeto 2025 (um programa governamental desenvolvido por grupos ultraconservadores), prevê a eliminação do acesso aos medicamentos para o aborto em todo o país, a redução do financiamento do aborto pelo programa de saúde pública Medicaid e a restrição do acesso a contracetivos, especialmente aos contracetivos reversíveis de longa duração, como os DIU.
O Dr. Mehmet Oz, a escolha de Trump para dirigir os Centros de Serviços Medicare e Medicaid, é um antigo apresentador de um programa de televisão, tem sido acusado de vender tratamentos e produtos médicos dúbios e manifestou opiniões contraditórias sobre o aborto durante a sua candidatura ao Senado em 2022.
Oz descreveu-se como "fortemente pró-vida, elogiou a decisão do Supremo Tribunal sobre a anulação de Roe v. Wade, afirmou que "a vida começa na conceção" e referiu-se ao aborto como "homicídio", mas fez também eco da abordagem de Trump sobre os direitos dos Estados, argumentando que o governo federal não deve estar envolvido nas decisões sobre o aborto.
A escolha de Trump para procuradora-geral, Pam Bondi, defendeu restrições ao aborto, incluindo um período de espera de 24 horas, enquanto procuradora-geral da Florida.
A sua nomeação está a ser celebrada pelos opositores do aborto, mas denunciada pelos grupos de defesa dos direitos do aborto, preocupados com a possibilidade de Bondi recuperar a Lei Comstock, uma lei anti-vício aprovada pelo Congresso em 1873 que, entre outras coisas, proíbe o envio de medicamentos ou instrumentos utilizados no aborto.
David Weldon, ex-congressista da Florida, anti-aborto e anti-vacinas, foi escolhido para dirigir o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), que recolhe e monitoriza dados sobre o aborto em todo o país.
O ex-congressista republicano Doug Collins é a escolha de Trump para dirigir o Departamento de Assuntos dos Veteranos e tem votado consistentemente para restringir o financiamento e o acesso ao aborto.
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