A reportagem correu o mundo na semana passada, depois de o regime de Bashar Al-Assad ter sido derrubado. Os protagonistas eram a jornalista da CNN internacional Clarissa Ward e um prisioneiro sírio, de seu nome Adel Gharbal.
Durante uma investigação às prisões do regime do presidente sírio Bashar al-Assad, em Damasco, a jornalista deparou-se com uma cela trancada. No interior, Ward assegurou que viu um cobertor mexer-se. Debaixo da manta estava um prisioneiro que tinha sido abandonado pelos seus captores, sem água ou comida, há quatro dias.
Impelido pelos rebeldes que acompanhavam a equipa da CNN, o homem destapou-se e assegurou ser um civil. Quando se convenceu de que estava fora de perigo, contou à jornalista que estava naquela cela sem janela há três meses.
Nas redes sociais, Clarissa afirmava que em 20 anos de carreira este momento era o mais extraordinário que viver até então. Contudo, esta vê-se agora envolvida em polémica dado que existem rumores de que a reportagem que protagonizou não passa de uma mentira. A estação de televisão está já a investigar.
As acusações surgem do site sírio de verificação de factos Verify-Sy que aponta várias questões que lhe parecem suspeitas na reportagem.
Primeiro, nota que o homem, que alegadamente esteve preso durante meses numa solitária, não hesitou nem pestanejou quando olhou para o céu pela primeira vez em meses. Além disso, refere, apesar do alegado tratamento severo dos detidos em prisões secretas, Gharbal parecia limpo, bem cuidado e fisicamente saudável, sem ferimentos visíveis ou sinais de tortura - "um retrato incongruente de alguém alegadamente mantido em confinamento solitário no escuro durante 90 dias”, relatou o Verify-Sy, que faz parte da Rede Internacional de Verificação de Factos do Poynter.
A mesma plataforma refere que não conseguiu confirmar a identidade do homem, tendo através de testemunhos locais descoberto que se chama, afinal, Mohammad Salama ou Abu Hamza. A confirmar-se, este chegou a ser primeiro tenente dos serviços secretos da Força Aérea Síria, que serviu o antigo Presidente Bashar al-Assad, tendo sido acusado de envolvimento em “roubo, extorsão e coação de residentes para se tornarem informadores” e participou em operações militares em várias frentes, em Homs, em 2014.
Estas mesmas fontes referem que o homem foi atirado para uma prisão de Damasco há menos de um mês, após uma disputa com um hierárquico superior devido a dinheiro e extorsão.
Desde então dizem que está a tentar ganhar a simpatia de todos, após a queda do regime.
Após estas alegações, a CNN já anunciou que está a investigar a reportagem de Clarissa, uma das mais conceituadas jornalistas de guerra do canal.
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