Já com quase dois anos de invasão a marcar a Ucrânia, a Rússia decidiu 'ligar' a Kim Jong-un para pedir reforços - que entraram aos milhares em território ucraniano em outubro.
Esta ajuda foi denunciada por Kyiv, que avisou a comunidade internacional de que Moscovo se preparava para ir buscar esta ajuda à Coreia do Norte - e as previsões estavam certas, com as primeiras imagens destes soldados a serem partilhadas na recolha de uniformes.
Cerca de três meses depois desta entrada, muito pouco é sabido sobre estes soldados na Ucrânia, tal como aponta uma análise feita pela CNN Internacional. Atualmente, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, deixa críticas a Moscovo, com acusações de que a Rússia tenta "esconder mortes de norte-coreanos", nomeadamente, na região de Kursk.
O que se sabe destes soldados?
A presença ou intenção destas tropas na Ucrânia não foi confirmada 'preto no branco' por Moscovo ou Pyongyang, mas estima-se que cerca de 11 mil soldados tenham sido enviados para a Europa.
Em Kursk já terão sido vítimas desta guerra, com "ferimentos e mortes". Segundo Kyiv, no último fim de semana, homens com diferentes uniformes dos russos terão morrido em Kursk, usando "as mesmas táticas usadas há 70 anos", numa referência à guerra entre as Coreias.
"Se eu fosse descrever a sua capacidade de uma forma mais geral e não pensasse no equipamento que tinham, dir-lhe-ia que não se tratam de tropas com experiência de combate, que nunca estiveram em combate antes", explicou Michael Madden, um funcionário dos Estados Unidos citado pela CNN Internacional, acrescentando que a sua avaliação era de que as baixas incluíam todos os escalões, incluindo líderes de comando.
"Mais bem treinados, em melhor forma e mais motivados"
Mas se por um lado tanto Kyiv como Washington dão conta de centenas de mortes nestes batalhões, há quem alerte que este exército não deve ser subestimado. De acordo com o antigo general sul-coreano Chun In-bum, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, enviaria soldados de uma corporação conhecida como 'Storm Corps', que são altamente treinados e doutrinados.
Segundo o que o veterano deste batalhão disse, fazem parte soldados das forças especiais - como os Rangers norte-americanos, por exemplo - e também 'snipers'.
Estes soldados são "mais bem treinados, têm uma melhor forma física e estão mais motivados que a maioria dos soldados norte-coreanos". "Estes soldados estão programados, doutrinados", reforçou, perguntando: "A questão é quão bem doutrinados e programados?"
"Estão, provavelmente, mais bem posicionados do que outros membros das forças armadas, ou outros membros de forças armadas que vão para um conflito no estrangeiro, em termos de preparação das suas mentes", supôs.
Segundo a imprensa internacional, Moscovo está a ensinar termos como "disparar" ou "em posição" para que estes possam seguir ordens superiores.
Também um desertor do exército norte-coreano conta a sua experiência, que durou 12 anos, servindo nos anos 90, numa altura em que a fome causou a morte a um milhão de pessoas.
"Antes de 1991, ainda podíamos comer carne, mas a partir desse ano, a carne começou a escassear", explicou 'Kim Seong-han', que pediu para usar um pseudónimo por razões de segurança, acrescentando: "A ração de arroz, que costumava ser de 800 gramas por refeição, foi reduzida para 800 gramas por dia e, por fim, só nos davam farinha de milho sem arroz".
'Kim' desertou para a Coreia do Sul em 2017, quase duas décadas depois do seu serviço militar, detalhou as condições em que esteve. Para além da malnutrição, o soldado falou dos acidentes regulares que aconteciam, "como falhas de tiro, soldados que detonavam acidentalmente granadas e outros acidentes com armas."
"Um exemplo do nosso treino seria uma marcha de inverno - de 150 quilómetros - durante três dias sem dormir”, recordou. 'A favor' havia o aquecimento nos locais onde dormiam, dado que as casas norte-coreanas não eram aquecidas e estes lugares sim, durante 24 horas.
Há ainda alegações de que estes soldados têm roubado comida de algumas vilas, e, de acordo com a CNN Internacional, há unidades em que o abastecimento de comida está a acontecer de forma regular. "Têm o suficiente para comer. Ou até mais do que os norte-coreanos [na Coreia do Norte]", disse Michael Madden.
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