"Quero assumir o poder que o povo venezuelano me conferiu quando, no passado dia 28 de julho, mais de sete milhões de venezuelanos votaram na minha candidatura para ser eleito Presidente da Venezuela", afirmou, em entrevista à imprensa portuguesa, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, onde recebeu o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2024.
Edmundo González, que procurou asilo político em Espanha em setembro passado, na sequência de um mandado de captura emitido pelas autoridades venezuelanas, afirmou que, nas eleições presidenciais de 28 de julho, "o povo deu o seu veredicto".
"A Constituição Nacional estabelece que o dia 10 de janeiro é o dia da tomada de posse e a partir dessa data tenho de estar na Venezuela", referiu.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou o atual Presidente, Nicolás Maduro, como candidato reeleito para um terceiro mandato, por um período de seis anos, com 51% dos votos, um resultado que a oposição contesta, afirmando que, com base em 80% das atas eleitorais, que tornou públicas, Edmundo González Urrutia venceu as eleições presidenciais com 70% dos votos.
A oposição venezuelana e muitos países denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente.
Os resultados eleitorais foram contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, e registo, segundo as autoridades, de mais de 2.400 detenções, 27 mortos e 192 feridos.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela ainda não divulgou as atas do sufrágio desagregadas por assembleia de voto.
Edmundo González rejeita as acusações do regime de Maduro de que está a conduzir um golpe de Estado.
"Golpe de Estado? Por favor. Houve um processo eleitoral, houve eleições, houve resultados e esses resultados favoreceram-nos por uma larga margem para assumir o cargo de Presidente da República", comentou.
O prémio Sakharov foi atribuído igualmente à líder da oposição, María Corina Machado, que se encontra escondida na Venezuela há três meses.
"María Corina Machado é e foi a líder política fundamental deste processo e eu perguntei-lhe se ela estaria disposta a servir como vice-presidente executiva da República", revelou hoje Edmundo González.
A oposição diz estar a trabalhar num "plano para os primeiros 100 dias" de governo para responder às necessidades imediatas do país, que precisa de uma "reestruturação muito profunda".
"Há muitas coisas que precisam de ser corrigidas. O país está numa crise terrível há muitos anos, com uma hiperinflação muito elevada, um país onde as crianças vão à escola duas vezes por semana", exemplificou.
O plano contém "medidas que vão ser tomadas para recuperar a economia, para recuperar os salários dos trabalhadores, para abrir a segurança ao investimento estrangeiro", referiu o candidato, que o Parlamento Europeu reconhece como Presidente eleito do país.
Na economia, sustentou, é preciso "recompor a questão da taxa de câmbio, pôr em ordem a questão do investimento".
Sobre o papel que a União Europeia pode desempenhar na crise política e social da Venezuela, Edmundo González disse ter "a maior expectativa e esperança que a Europa desempenhe um papel importante nesta fase".
"O prémio Sakharov foi atribuído a todos os venezuelanos, não apenas a mim. Interpretamos isto como um sinal para todos os venezuelanos que se esforçaram para conseguir a recuperação do país", afirmou.
A Venezuela "tem muitos problemas" e contará "com a assistência e a cooperação dos governos da União Europeia", acrescentou.
Na atribuição do prémio Sakharov, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, destacou que a distinção reconhece "os "esforços incansáveis" de María Corina Machado e Edmundo González Urrutia "para restaurar a liberdade e a democracia na Venezuela e assegurar uma transição de poder justa, livre e pacífica, arriscando tudo pelos valores que milhões de venezuelanos e este Parlamento tanto prezam: a justiça, a democracia e o Estado de Direito".
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